
Garota de Ipanema
1985
(clique nas músicas para ver as letras)
-
O Barquinho (Roberto Menescal / Ronaldo Bôscoli)
Dia de luz, festa de sol
E o barquinho a deslizar no macio azul do mar
Tudo é verão e o amor se faz
Num barquinho pelo mar que desliza sem parar
Sem intenção nossa canção vai saindo desse mar e o sol
Beija o barco e luz
Dias tão azuis
Volta do mar, desmaia o sol
E o barquinho a deslizar e a vontade de cantar
Céu tão azul, ilhas do sul
E o barquinho é o coração deslizando na canção
Tudo isso é paz, tudo isso traz
Uma calma de verão e então
O barquinho vai
A tardinha cai -
Garota de Ipanema (Tom Jobim / Vincius de Moraes)
Olha que coisa mais linda, mais cheia de graça
É ela, menina que vem e que passa
Num doce balanço caminho do mar
Moça do corpo dourado do sol de Ipanema
O seu balançado é mais que um poema
É a coisa mais linda que eu já vi passar
Ah, por que estou tão sozinho?
Ah, por que tudo é tão triste?
Ah, a beleza que existe
A beleza que não é só minha
Que também passa sozinha
Ah, se ela soubesse que quando ela passa
O mundo inteirinho se enche de graça
E fica mais lindo por causa do amor -
Berimbau (Baden Powell / Vinicius de Moraes)
Quem é homem de bem não trai
O amor que lhe quer seu bem
Quem diz muito que vai não vai
E assim como não vai não vem
Quem de dentro de si não sai
Vai morrer sem amar ninguém
O dinheiro de quem não dá é o trabalho de quem não tem
Capoeira que é bom não cai e se um dia ele cai, cai bem
Capoeira me mandou dizer que já chegou
Chegou para lutar
Berimbau me confirmou
Vai ter briga de amor
Tristeza, camará -
Desafinado (Tom Jobim / Newton Mendonça)
Quando eu vou cantar você não deixa
E sempre vem a mesma queixa
Diz que eu desafino, que não sei cantar
Você é tão bonita
Mas sua beleza também pode se acabar
Se você disser que eu desafino, amor
Saiba que isso em mim provoca imensa dor
Só privilegiados têm ouvido igual ao seu
Eu possuo apenas o que Deus me deu
Se você insiste em classificar
Meu comportamento de anti-musical
Eu mesmo mentindo devo argumentar
Que isso é bossa-nova, que isso é muito natural
O que você não sabe nem sequer pressente
É que os desafinados também tem um coração
Fotografei você em minha Roleiflex
Revelou-se a sua enorme ingratidão
Só não poderá falar assim do meu amor
Esse é o maior que você pode encontrar, viu?
Você com sua música esqueceu o principal
É que no peito do desafinado
No fundo do peito bate calado
É que no peito do desafinado também bate um coração -
Wave (Tom Jobim)
Vou te contar, os olhos já não podem ver
Coisas que só o coração pode entender
Fundamental é mesmo o amor
É impossível ser feliz sozinho
O resto é mar, é tudo que eu não sei contar
São coisas lindas que eu tenho pra te dar
Vem de mansinho a brisa e me diz
É impossível ser feliz sozinho
Da primeira vez era a cidade
Da segunda o cais, a eternidade
Agora eu já sei
Da onda que se ergueu no mar
E das estrelas que esquecemos de contar
O amor se deixa surpreender
Enquanto a noite vem nos envolver -
Corcovado (Tom Jobim)
Um cantinho, um violão
Esse amor, uma canção
Pra fazer feliz a quem se ama
Muita calma pra pensar e ter tempo pra sonhar
Da janela vê-se o Corcovado
O Redentor, que lindo
Quero a vida sempre assim
Com você perto de mim
Até o apagar da velha chama
E eu que era triste
Descrente desse mundo
Ao encontrar você eu conheci
O que é felicidade, meu amor -
Águas de março (Tom Jobim)
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida, é o sol
É a noite, é a morte, é o laço, é o anzol
É peroba do campo, é o nó da madeira
Caingá, candeia, é o matita-pereira
É madeira de vento, o tombo da ribanceira
É um mistério profundo, é o queira ou não queira
É o vento ventando, é o fim da ladeira
É a viga, é o vão, festa da cumeeira
É a chuva chovendo, é conversa ribeira das águas de março
É o fim da canseira
É o pé, é o chão, é a marcha estradeira
Passarinho na mão, pedra de atiradeira
É uma ave no céu, é uma ave no chão
É um regato, é uma fonte, é um pedaço de pão
É o fundo do poço, é o fim do caminho
No rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego, é uma ponta, é um ponto
É um pingo pingando, é uma conta, é um conto
É um peixe, é um gesto, é uma prata brilhando
É a luz da manhã, é um tijolo chegando
É a lenha, é o dia, é o fim da picada
É a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
É o projeto da casa, é o corpo na cama
É o carro enguiçado, é a lama, é a lama
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É o resto de mato na luz da manhã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É uma cobra, é um pau, é João, é José
É um espinho na mão, é um corte no pé
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É um passo, é uma ponte, é um sapo, é uma rã
É um belo horizonte, é uma febre terçã
São as águas de março fechando o verão
É a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É um resto de toco, é um pouco sozinho -
A Felicidade (Antonio Carlos Jobim / Vinicius de Moraes)
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a gota de orvalho numa pétala de flor
Brilha tranqüila, depois de leve oscila
E cai como uma lágrima de amor
A felicidade do pobre parece
A grande ilusão do carnaval
A gente trabalha o ano inteiro
Por um momento de sonho pra fazer a fantasia
De rei ou de pirata ou jardineira
Pra tudo se acabar na quarta-feira
Tristeza não tem fim
Felicidade sim
A felicidade é como a pluma que o vento vai levando pelo ar
Voa tão leve, mas tem a vida breve
Precisa que haja vento sem parar
A minha felicidade está morando
Nos olhos da minha namorada
É como uma noite passando, passando
Em busca da madrugada, falem baixo, por favor
Pra que ela acorde alegre como o dia
Oferecendo beijos de amor -
Manhã de Carnaval (Luiz Bonfá / Antônio Maria)
Manhã, tão bonita manhã
Na vida uma nova canção
Cantando só teus olhos
Teu riso, tuas mãos
Pois há de haver um dia em que virás
Das cordas do meu violão
Que só teu amor procurou
Vem uma voz
Falar dos beijos perdidos
Nos lábios teus
Canta o meu coração
A alegria voltou tão feliz na manhã desse amor -
Chega de saudade (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
Vai minha tristeza e diz a ela
Que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque eu não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz, não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim, não sai
Mas se ela voltar, se ela voltar
Que coisa linda
Que coisa louca
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços os abraços
Hão de ser milhões de abraços apertado assim
Colado assim, calado assim
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver assim
Não quero mais esse negócio de você viver sem mim
Vamos deixar esse negócio de viver longe de mim
Que é pra acabar com esse negócio de você viver assim
Não quero mais esse negócio de você viver sem mim... -
Meditação (Tom Jobim / Newton Mendonça)
Quem acreditou no amor, no sorriso e na flor
Então sonhou, sonhou
E perdeu a paz, o sorriso e a flor
Se transformam depressa demais
Quem no coração abrigou a tristeza de ver
Tudo isso se perder
E na solidão escolheu um caminho e seguiu
Já descrente de um dia feliz
Quem chorou, chorou
E tanto que o seu pranto já secou
Quem depois voltou
Ao amor, ao sorriso e à flor
Então tudo encontrou
Pois a própria dor
Revelou o caminho do amor e a tristeza acabou -
Samba de uma nota só (Tom Jobim / Newton Mendonça)
Eis aqui este sambinha feito numa nota só
Outras notas vão entrar, mas a base é uma só
Essa outra é conseqüência do que acabo de dizer
Como eu sou a consequência inevitável de você
Quanta gente existe por aí que fala tanto e não diz nada, ou quase nada
Já me utilizei de toda escala, no final não sobrou nada, não deu em nada
E voltei pra minha nota
Como eu volto pra você
Vou contar com minha nota como eu gosto de você
E quem quer todas as notas, ré, mi, fá, sol, lá, si, dó
Fica sempre sem nenhuma, fique numa nota só -
Água de beber (Tom Jobim / Vinicius de Moraes)
Eu quis amar, mas tive medo
E quis salvar meu coração
Mas o amor sabe um segredo
O medo pode matar o seu coração
Água de beber, água de beber, camará
Água de beber, água de beber, câmara
Eu nunca fiz coisa tão certa
Entrei pra escola do perdão
A minha casa vive aberta
Abre todas as portas do coração
Água de beber, água de beber, camará
Água de beber, água de beber, camará -
Você e eu (Carlos Lyra / Vinicius de Moraes)
Podem me chamar e me pedir e me roubar
E podem mesmo falar mal, ficar de mal que não faz mal
Podem preparar milhões de festas ao luar
Eu não vou ir, melhor nem pedir, eu não vou ir, não quero ir
E também podem me intrigar, e até sorrir, e até chorar
E podem mesmo imaginar o que melhor lhes parecer
Podem espalhar que estou cansado de viver
E que é uma pena para quem me conheceu
Eu sou mais você e eu -
Samba do avião (Tom Jobim)
Minha alma canta
Vejo o Rio de Janeiro
Estou morrendo de saudade
Rio, teu mar, praias sem fim
Rio, você foi feito pra mim
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio, eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Rio de sol, de céu, de mar
Dentro de mais um minuto estaremos no Galeão
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Cristo Redentor
Braços abertos sobre a Guanabara
Este samba é só porque
Rio eu gosto de você
A morena vai sambar
Seu corpo todo balançar
Aperte o cinto, vamos chegar
Água brilhando, olha a pista chegando e vamos nós
Aterrar -
O que será (A flor da terra) (Chico Buarque)
O que será, que será
Que andam suspirando pelas alcovas
Que andam sussurrando em versos e trovas
Que andam combinando no breu das tocas
Que andam nas cabeças, andam nas bocas
Que andam acendendo velas nos becos
Que estão falando alto pelos botecos
E gritam nos mercados
Que com certeza está na natureza
Será que será
O que não tem certeza, nem nunca terá
O que não tem conserto, nem nunca terá
O que não tem tamanho
O que será que será
Que vive nas idéias desses amantes
Que cantam os poetas mais delirantes
Que juram os profetas embriagados
Está na romaria dos mutilados
Esta na fantasia dos infelizes
Está no dia a dia das meretrizes
No plano dos bandidos, dos desvalidos
Em todos os sentidos, será que será
O que não tem decência, nem nunca terá
O que não tem censura, nem nunca terá
O que não faz sentido
O que será que será
Que todos os avisos não vão evitar
Porque todos os risos vão desafiar
Porque todos os sinos irão replicar
Porque todos os hinos irão consagrar
E todos os meninos vão desembestar
E todos os destinos irão se encontrar
E mesmo o padre eterno, que nunca foi lá
Olhando aquele inferno vai abençoar
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem juízo
O que não tem juízo
O que será, que será, que será
Que será, que será, que será, que será...
Gravadora: Philips
Produção: Roberto Menescal
Direção: Takashi Kitazawa
Arranjos, violão de nylon e guitarra: Roberto Menescal
Percussão: Beto (Camerata Carioca) e Tomohiro Yahiro
Bateria: Kazuo Yoshida
Baixo: Beniske Sakai
Violão de nylon em Berimbau e Wave: Nara Leão
Assistente de produção: Miguel Bacellar Chaves
Engenheiro: Kiyoshi Tokiwa
Fotografia: Koh Hasebe
Direção de arte: Sinzo Hoshino
Agradecimentos especiais: Latina e Varig Brasil Airline