álbum

Nara (1964)

Meu Samba Encabulado

1983

músicas / letras

Eu sempre gostei de fazer as coisas “atravessadas”. Eu adorava cantar bossa-nova. Quando começou a dar certo, eu fui cantar samba de morro e protesto, procurando as raízes de nossa música. Fui continuando e cantei “A Banda”, com todo o Brasil. Agora, canto “Meu samba encabulado”. Continuo achando que não é preciso ir longe para encontrar o melhor: uma música vigorosa, brasileira, carioca.

Foi muito fácil encontrar esse repertório. Túlio Feliciano e Maurício Carrilho apareciam diariamente com músicas que eu adorava de cara. Com Túlio fazia laboratório de interpretação. Às vezes, as crianças chegavam em casa, eu estava falando zangada: “Tinha eu 14 anos de idade”, depois a mesma frase rindo, depois com voz de criança. No princípio eu ficava com verginha (desde “Opinião” eu não trabalhava desse jeito).

Maurício Carrilho é um arranjador que sabe trabalhar em equipe. Ouve, pondera, formaliza. Tudo dentro de uma concepção muito nossa, brasileira, econômica, original. Três instrumentos (flauta, saxofone, violão) ele faz parecer uma orquestra. Convidamos Paulo Moura para fazer três arranjos. Extraordinário. Com ele tudo é muito quente, com muito sangue, nada asséptico. Sempre correndo entre um concerto na Dinamarca e uma gafieira na Praça Tiradentes. Nosso disco foi gravado direto. Cantei junto com os músicos como num show ao vivo, ou numa festa. E achei tão bonito todo o trabalho, que pedi que eles criassem um momento instrumental dentro do disco. E assim surgiram os solos de Paulo Moura, da Camerata Carioca e do pessoal do Cacique de Ramos.

A infra-estrutura que nos permitiu trabalhar em paz nos foi dada por Ivone e Branca (Tchês), nossas produtoras e também fadas-madrinhas.

Por todos vocês, um beijo, Nara.

Comentário das faixas:



“Quando a saudade apertar”
Grande sucesso do nosso querido Orlando Silva. Chiquinho me fez chorar com seu acordeom comovido.

“Pé-de-moleque”
A Camerata Carioca, com suas delicadezas acústicas, reinventa o choro nesse belo momento instrumental de Radamés Gnatalli.

“Fundo azul”
Com cenas da vida brasileira, Nelson Sargento fez este samba.

“De mal pra pior”
Quando o Hermínio me disse que o Pixinguinha tinha feito essa música pra que eu cantasse, nem acreditei. Pixinguinha era a coisa mais linda. Quando tocava, se esquecia do mundo.

“14 anos”
Uma reflexão do grande Paulinho da Viola, usando como metáfora o samba. E a extrema delicadeza da caixinha do Ubirany.

“Como será o ano 2000?”
Como será daqui para o ano 2000? Paulo Moura reinventa o maxixe dentro do humor sarcástico de Padeirinho.

“Isso é o Brasil”
Para Glauber e Anecy

“Firuliu”
Teca Calazans fez esta música inspirada na Nau Catarineta do folclore paraibano, que conta a história de um barco que viaja de Recife a Lisboa durante 7 anos e 1 dia. Canto para meus filhos Isabel e Francisco.

“Brasileirinho”
João Pernambuco é compositor que este ano festeja seu centenário. José Leal colocou versos e Nó em Pingo D’Água toca comigo esse choro, num arranjo primoroso do Luís Otávio Braga.

“Há música no ar”
É viver um momento de amor cantar Dona Yvonne Lara num arranjo de Paulo Moura.

“Eu e a brisa”
Pedi que Paulo tocasse à vontade no meu disco. Como se ele me tirasse para dançar. É assim que sinto esse extraordinário momento de mágica.

“Meu cantar”
É o povo cantando feliz. O solo de percussão é a nossa homenagem ao Cacique de Ramos. salve Jorge, Sereno e nosso querido presidente Bira (com um beijo pra Beth Carvalho).

“Relembrando”
Luiz Carlos da Vila fez um samba-choro dos dias de hoje. Delicado como a flauta de Dazinho.