
Meu Samba Encabulado
1983
(clique nas músicas para ver as letras)
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Meu cantar (Noca da Portela / Joel Menezes)
Meu cantar vem do fundo do coração
É canção que me libertou
De um amor que mentiu
Que feriu e me enganou
Meu cantar
Meu cantar faz meu peito não mais sangrar
Meu olhar esquecer a dor
De um amor que bateu
Que doeu e me machucou
Agora sei sorrir
Descobri que a dor
Que faz o amor ser infeliz
É a mesma que traz
Minha paz e me faz feliz -
14 anos (Paulinho da Viola)
Tinha eu 14 anos de idade
Quando meu pai me chamou
Perguntou-me se eu queria
Estudar filosofia
Medicina ou engenharia
Tinha eu que ser doutor
Mas a minha aspiração
Era ter um violão
Para me tornar sambista
Ele então me aconselhou
Sambista não tem valor
Nesta terra de doutor
E seu doutor
O meu pai tinha razão
Vejo um samba ser vendido
E o sambista esquecido
O seu verdadeiro autor
Eu estou necessitado
Mas meu samba encabulado
Eu não vendo, não senhor -
Relembrando (Luiz Carlos da Vila)
O meu pai colocou pra tocar um choro
Relembrando os tempos de Pixinguinha
De repente, eu estava fazendo coro
Esse estilo plangente penetra na gente
E a alma se esvai toda a devanear
E um velho passante, que pressentiu
Marejando nos olhos, chegou, sorriu
O choro inundou toda a sala
Quem ouve um choro, se cala
Ou fala somente de coisas inspiradas no amor
E na conversa dos dois eu fui me integrando
Me entregando, viajando
Nos tempos em que a canção
De um violão madrugando
À janela da amada
Vinha dar em casamento
Ou somente falação
Confesso que dentro do peito
Saudades então eu senti
De um tempo em que só
Na conversa dos velhos vivi -
De mal pra pior (Pixinguinha / Hermínio Bello de Carvalho)
Vai se ver e atrás do riso
Está morrendo de chorar
E passando maus pedaços
Disfarçando que vai bem
Não vai bem, pra ser sincero
Vai de mal pra bem pior
Vive sem pedir ajuda
E eu sei lá por quê, pra quê
Mas, no entanto, pelos cantos
Só faz lamentar, se maldizer
Vai se ver, pede tão pouco
E entretanto, não achou
Dos amores que esperava
Só se perdeu, desencontrou
Vive então se remoendo
Mas por fora, nem se vê
Se defende num sorriso
Pra disfarçar não sei o quê -
Há música no ar (Yvonne Lara / Délcio Carvalho)
Me deixa cantar, minha gente
Um samba que vai alegrar
Soltar os meus sonhos
Criar ambiente
No qual a tristeza não vai penetrar
Me deixa fugir da saudade
Que às vezes me faz soluçar
Eu quero a bonança, a bem da verdade
A gente se cansa de tanto penar
Quero esquecimento
De toda amargura
Trocar o meu lamento
Por sonho e ventura
E há música no ar
Trazendo emoção
Não devem perdurar
As sombras da desilusão
Sorria, minha gente
Que um samba de alegria
Nos leva fatalmente
Ao fim da agonia
Precisa ser feliz
Quem soube o que é chorar
E ver um grande amor
Chegar -
Eu e a brisa (Johnny Alf)
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Como será o ano 2000? (Padeirinho)
Como será
Daqui para o ano 2000?
Como será
O nosso querido Brasil?
Como será
O morro sem os barracões?
Como será
O Rio sem as tradições?
É, será que no ano 2000
As escolas de samba
Irão desfilar?
Será que haverá carnaval?
Será?
Daqui para o ano 2000
Só Deus sabe como será
E o povo do nosso Brasil
Verá -
Isso é o Brasil (José Maria de Abreu / Luiz Peixoto)
Que quer dizer esse monjolo
A rodar as moendas?
E esse ruído de jongo
De antigas fazendas?
Que quer dizer essa algazarra
De araras, saguis e cigarras
Quebrando o silêncio
Das águas dos igarapés?
Que quer dizer essa jangada
Que vai lutando lá no alto-mar?
E esse caboclo nessa rede
Se embalando pra lá, pra cá, pra lá?
E o aboio triste deste velho boiadeiro
De quebrada em quebrada
A gritar: ê, boi?
E essa mulata
Bamboleando tanto o quadril
No passo da malemolência
Dentro da cadência
Com esse sorriso tão meigo e gentil?
E o verde-esperança da mata
No olhar da mulata?
Tudo isso quer dizer
Brasil -
Fundo azul (Nelson Sargento)
Borboleta esvoaçando em fundo azul
Flores desabrocham, é primavera
Brisa leve
Sopra do norte pro sul
No espaço, um foguete
Busca a nova era
O vigário empunha a estola
No campo santo
Alguém reza por alguém
Vinte e dois homens
Disputando uma bola
Joga no bicho
Eu e ela, e você também
O cão ainda é fiel amigo
Crianças continuam a nascer
Uma velhice imensa sem abrigo
Quanta gente à procura de lazer
Ninguém é de ninguém
Esta é a frase padrão
Salve-se quem puder
Neste mundo de ilusão -
Pé-de-moleque (Radamés Gnatalli)
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Firuliu (Teca Calazans)
Firuliu, firuliu, firuléu
Onda no mar, quer maré
Eu venho de terras tão distantes
Trazendo o ouro das minas
No peito uma dor lacerada
Nos olhos a lágrima contida
Nos galhos daquela figueira
Perdido, o amor se encontrava
O vento soprando tão forte
No seu cabelo cantava
São sete as espadas da lua
São sete as vidas que tenho
E a barca navega seu rumo
No mar
Pra eu te amar todo tempo -
Brasileirinho (João Pernambuco / Turíbio Santos)
Doce melodia, és tão triste
Que não sei se tu existes
Pra eu não me entristecer
Vem, chega assim
Vem pro meu lado
E me deixa estonteado
Com você eu arranjo
Um novo jeito de viver
Vem, vem, vem, vem
Vem com esse jeito delicado
E assim não tenho medo
De por você me perder
Vem, vem, vem, vem
Vem, não me apresse, melodia
Dê-me um beijo demorado
Tô assim todo tomado
Dos compassos de você
Vem, vem, vem, vem
Oh, minha doce melodia
Me entrelaço na harmonia
Que penso que sou você
Vai, vai, vai, vai
Vai, mas fica aqui
Só um pouquinho
Que um dia inda faço
Um belo verso pra você
Não esquecer, só pra você
Vai, vai, vai
Leva este teu eu
Brasileirinho
Nossa gente tem no peito
Sentimento de você -
Quando a saudade apertar (Jayme Florence / Leonel Azevedo)
Quando a saudade apertar
E o remorso em teu peito
Cruel se abrigar
Tu sentirás, então, a mesma dor
Que eu senti quando vi
Morrer nosso amor
Na solidão desse teto
Onde um grande afeto
Chorando perdi
Meu violão soluçando
Minha alma cantando
Só lembram de ti
E quando a tarde declina
E a verde campina
Já veste da noite o negror
Vejo tal como num sonho
O teu vulto risonho
Falando-me de amor
O rio ao longe rolando
Cigarras cantando
De tarde ao sol pôr
Trazem à minh’alma vazia
A cruel nostalgia
Que faz minha dor
Gravadora: Philips
Projeto artístico: Túlio Feliciano e Nara Leão
Produção artística: Maurício Carrilho
Produção executiva: Branca Ramil, Ivone de Virgilis e Liane Klein (Tchê Promoções)
Técnicos de gravação: Ary Carvalhaes e João Moreira
Auxiliares de estúdio: Carlos Jorge de Souza e Márcio Pereira Gama
Mixagem: Maurício Carrilho, Ary Carvalhaes e Henrique Cazes (na música Pé-de-moleque)
Corte: Ivan Lisnik
Arregimentação: Clóvis Mello, Lili e Tchê Promoções
Arranjo: Maurício Carrilho, Joaquim Santos, Paulo Moura, Radamés Gnatalli e Luiz Otávio Braga
Acordeom: Chiquinho
Baixo: Feijão
Bandolim: Joel Nascimento e Pedro Amorim
Banjo: Henrique Cazes
Bateria: Jorjão
Caixa: Bolão
Caixinha de agulha 78: Ubirany
Cavaquinho: Henrique Cazes, Paulinho da Viola, Carlinhos, Wanderson Martins
Clarinete: Paulo Moura, Tony, Paulo Sérgio
Coro afetivo: Ana Lúcia, Branca, Ivone, Lili, Teça, Beto, Dazinho, Henrique, Luís Otávio e Maurício
Flauta: Altamiro Carrilho, Dazinho e Mário Seve
Ganzá: Joviniano e Beto Cazes
Guitarra: Torcuato e Wolfgang Netzer
Pandeiro: Bira, Beto Cazes, Márcio Gomes
Piano: Zezinho Moura
Piano Fender Rhodes: Alex Meirelles
Repique: Ubirany e Jorge
Sax-alto: Dazinho, Paulo Moura
Sax-tenor: Zé Bodega
Surdo: Gordinho
Tamborim: Beto Cazes, Bira, Ubirany, Joviniano, Luna, Marçal e Eliseu
Tantã: Sereno
Trombone: Seu Alberto
Tumbadora: Beto Cazes
Violão: Maurício Carrilho, Joaquim Santos, Rogério Silva e Nara Leão
Violão de sete cordas: Luís Otávio Braga e Jorge Eduardo
Viola de dez cordas: Wolfgang Netzer
Xequerê: Joviniano
Yamaha CP70: Radamés Gnatalli
Coordenação gráfica: Edson Araújo
Capa e fotos: Frederico Mendes
Arte-final: Jorge Vianna
Nara Leão vestida por Daniel Maia
Gravado e mixado no inverno de 83 nos Estúdios Barra – RJ