
Nasci Para Bailar
1982
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Nasci para bailar (Paulo André / João Donato)
Atravessei sete montanhas pra chegar no mar
Porque nasci, nasci para bailar
Abri veredas e cancelas pra poder passar
Porque nasci, nasci para bailar
Danço bolero, danço samba, danço cha-cha-cha
Rimo Raimundo com a virada desse mundo
Vou no raso, vou no fundo
Mas um dia chego lá
Rodo bandeira, dou pernada, dou rasteira
Toco surdo e frigideira, atabaque e ganzá
Porque nasci, nasci para bailar -
Pede passagem (Sidney Miller)
Chegou a hora da escola de samba sair
Deixa morrendo no asfalto uma dor
Que não quis
Quem não soube o que é ter alegria na vida
Tem toda a Avenida
Pra ser muito feliz
Vai, arrasta a felicidade pela rua
Esquece a quarta-feira e continua
Vivendo, chegando
Traz unido o povo, cantando com vontade
Levando em teu estandarte uma verdade
Seu coração
Vai, balança a bandeira colorida
Pede passagem pra viver a vida -
Luz do sol (Tem do filme “Índia”) (Caetano Veloso)
Luz do sol que a folha traga e traduz
Em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força e luz
Céu azul que vem até onde os pés tocam na terra
E a terra inspira e exala seus azuis
Reza, reza o rio,
Córrego pra o rio, o rio pro mar
Reza correnteza, roça a beira, doura a areia
Marcha o homem sobre o chão
Leva no coração uma ferida acesa
Dono do sim e do não
Diante da visão da infinita beleza
Finda por ferir com a mão essa delicadeza
Coisa mais querida
A glória da vida
Luz do sol que a folha traga e traduz
Em verde novo, em folha, em graça, em vida, em força e luz -
Supõe (Supon) (Silvio Rodriguez / Versão: Chico Buarque)
Supõe que já cruzamos pela vida
Mas nos deixamos sempre para trás
Porque eu andava sempre na avenida
E tu corrias pelas transversais
Supõe que num comício colorido
A praça, enfim, vai nos conciliar
Supõe que somos do mesmo partido
Supõe a praça a se inflamar
Bandeiras soltas pelo ar
E tu começas a cantar
Supõe que eu vibro, comovida
E supõe que eu sou tua canção
Supõe que te apresentas como amigo
E me perguntas nome e profissão
Comentas que faz sol, ou tem chovido
Ou outro comentário sem razão
Supõe que eu te observo, compreensiva
Porém, não tenho nada a acrescentar
Supõe que falas coisas dessa vida
Como querendo aparentar
Que tu tens muito o que contar
Que és um tipo original
Supõe que rio, divertida
E supõe que eu sou tua canção
Supõe que nós marcamos um cinema
Mas chegas lá pro meio da sessão
Pois teu trajeto tem algum problema
Que só te leva noutra direção
Supõe que agora a tela me ilumina
Tu ficas assistindo ao meu perfil
Supõe a minha mão tão recolhida
Que não percebe a tua mão
Que não percebe a minha mão
Que não é sim, que não é não
Supõe que eu sigo distraída
E supõe que eu sou tua canção
Supõe que a boa sorte é nossa amiga
E que das 3 às 5 pode ser
Meu pai acaba de dobrar a esquina
E tu vens me encontrar, enfim, mulher
Supõe que sem pensar nos abraçamos
Supõe que tudo está como previmos
É a primeira vez que nos amamos
Porém, supõe que falas sem parar
Supõe que o tempo vem e vai
Supõe que és sempre original
Supõe que nós não nos despimos
E supõe que eu sou tua canção -
Maravilha curativa (Miltinho / Kledir Ramil)
Vou me embora pra Abudabi
Lá eu vou ser feliz
Longe de ti e do filho
Que a gente fez, mas não quis
Suspende a conta conjunta
E o meu banho de butique
E aquele meu velho sonho
De morar em Moçambique
Ficou feijão na cozinha
Farofa e arroz integral
E um doce de açúcar mascavo
Que eu comprei no Natural
Já dancei em muita história
Acho que essa é minha sina
Árdua e dura, minha amiga
A vida da bailarina
Levo comigo a lembrança
Dessa paixão radioativa
E um frasco da milagrosa
Maravilha curativa
Dá um beijo nos amigos
E um trambique no armazém
Se perguntarem por mim
Diz que morri, mas vou bem -
Tou com o diabo no corpo (Sivuca / Paulinho Tapajós)
Tô queimando de amor, deixa queimar
Seja lá como for, quero é calor
Acabei de beber todo o sol com pimenta
E depois de aguentar a tormenta
Ninguém vai me aguentar
Tô queimando de amor, deixa queimar
Deixa assim como está, deixa esquentar
A noite inteira eu sou coração de fogueira
Um vulcão e um montão de besteira a se espalhar
Eu sou palhaço, poeta devasso
Um pedaço do bem e do mal
Louco por pouco ou por tanto
Um encanto que não tem final
Um pecado guardado
Aguardado querendo pecar
Sou brasa acesa, eu sou sobremesa
Princesa de um reino irreal
Tenho a mania e a maneira
De ser feiticeira fatal
Sou um doce salgado
Um sonho safado
Febre de alucinar -
Questão de tempo (Kleiton Ramil)
Há de navegar, há de navegar
Há de navegar pelas ondas desse mar
Alguém há de ouvir
A história disso aqui
Há tanta esperança
Manda uma lembrança
Dessa terra nua
Dessa gente boa
Dessa mesa farta
Da conversa à toa
Que vai ser a gota
Dentro dessa vida
Ouça, minha amiga
É questão de tempo
Há de navegar, há de navegar
Há de navegar pelas ondas desse mar
Alguém há de encontrar
De cara se espantar
Com toda essa história
Guardada na memória
E vai ser de um jeito
Sem botar defeito
E que vai crescendo feito labareda
Que vai ser um grito
No meio da cidade
Ouça, meu amigo
É questão de tempo -
Manto Negro (Elton Medeiros / Antônio Valente)
Quando a noite vem chegando
Com seu véu cobrindo tudo
Dentro do meu coração
Também descem as trevas da desilusão
Ah, se esse manto negro
Quando escurecesse o mundo
Apagasse a sombra que ela deixou
Feito um fantasma de filme de terror
A torturar meu peito
Em cada despedida fica para trás
Um resto de lembrança que não se desfaz
Quando a noite traz silencio e solidão
Renasce a recordação -
Gaiolas Abertas (João Donato / Martinho da Vila)
Voa, voa passarinho, voa
A janela está aberta
Nada já te prende mais
Voa, bate asa e vai embora
Mas há perigos lá fora
Visgos e pedras mortais
Voa
Pra ser livre valem os riscos
Voa
Foge lá pros altos picos
Canta
Pra chamar o companheiro
Que anda voando fagueiro
Entre frutas tropicais -
Imagina só (Imaginate) (Silvio Rodriguez / Versão: Chico Buarque)
Imagina só
Que eu desde pequena
Provava um bocado
Da tua merenda
Imagina só
Que eu sou da tua sala
Carregas meus livros
E eu te passo cola
Imagina só
Que eu sou da tua rua
Abri uma porta
De frente pra tua
Imagina só
Que o teu cão amigo
Só sabe o teu cheiro
Quando estás comigo
Imagina só
Que eu sou tua dama
Teu último sonho
A mais viva chama
Imagina só
Que eu sou tua garota
Nós dois para sempre
Que não és de outra -
Caso do Acaso (David Tygel)
De quem é que hoje eu desejo
O fogo de um beijo
E o coração pra sentir?
Tanta coisa infinita que agita meus ossos e carne
E tudo o que vem por aí
Por quem é que procuro
Nos becos escuros
No rumo da noite, quem é, afinal?
de quem é que preciso do abraço, do riso
De um caso no acaso desse carnaval
De quem é que pressinto a agonia
Quem sabe do dia
Bem antes da noite acabar
Quem planeja em segredo o enredo
Em que eu, mestre-sala
Consiga o primeiro lugar
Por quem é que procuro nos becos escuros
No rumo da noite, quem é, afinal
De quem é que preciso
Do abraço, do riso
De um caso no acaso desse carnaval -
Penar (Antonio Adolfo / Paulinho Tapajós)
É lindo o teu penar
Passarinho-cantor
Ter penas pra voar
Beijar tanta flor
Quero as suas penas todas para mim
Meu querubim
Quero me espalhar também no seu jardim
E ser talvez um grande amigo do jasmim
E assim que as flores todas conquistar
Sorrir das penas do penar -
A Primeira Sentença (Túlio Mourão)
Toda a pele é bem pouca
É raso o vaso do corpo
Pra todo desejo, toda vontade
Que a gente tem de se encontrar
A luz que deixa meus olhos
Não morre em nenhuma estrela
Sem tocar a face, o chão, a mesa
E cair presa de outro olhar
Quando o amor nos atira
Pra fora, pra longe de nós mesmos
Quem não partir tem salgada
A boca, a casa e o jardim
E a gente cumpre a sentença
Ninguém cabe nunca em si mesmo
A mais pequena alegria
Não pára, não aquieta
Num só coração
Gravadora: Philips
Direção de produção: Antonio Adolfo e Nara Leão
Direção artística: João Augusto (Deck)
Arranjos: Antonio Adolfo e João Donato
Arregimentação e cópias: Clovis Mello
Técnicos de gravação: Ary Carvalhaes, João Moreira, Luiz Cláudio Coutinho e Jairo Gualberto
Técnicos de mixagem: Ary Carvalhaes e Jairo Gualberto
Auxiliares de estúdio: Julinho, Manoel, Charles e Carlinhos
Montagem: Ricardo Pereira
Corte: Ivan Lisnik
Produção gráfica: Edson Araújo
Arte: Mariano Martins
Arranjos e regências: Antonio Adolfo e João Donato (Gaiolas Abertas)
Capa e fotos: Frederico Mendes
Agradecimento especial à L’Air du Temps
Gravado em maio e junho de 1982