
Com Açúcar Com Afeto
1980
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A Rita (Chico Buarque)
A Rita levou meu sorriso
No sorriso dela, meu assunto
Levou junto com ela
O que me é de direito
Arrancou-me do peito
E tem mais
Levou seu retrato
Seu trapo, seu prato
Que papel
Uma imagem de São Francisco
E um bom disco de Noel
A Rita matou nosso amor
De vingança
Nem herança deixou
Não levou um tostão
Porque não tinha não
Mas causou perdas e danos
Levou os meus planos
Meus pobres enganos
Os meus vinte anos
O meu coração
E além de tudo
Me deixou mudo o violão -
Onde é que você estava (Chico Buarque)
Hoje eu tenho a minha lira
Tenho paz, não admira
Que você venha me procurar
Os meus males são pequenos
Vivo bem, não é pra menos
Que você vem me encontrar
Mas quando eu tanto precisava
Meu amor, como é que é
Onde é que você estava?
Onde é que você estava?
É que eu tenho a minha lira, tenho paz
Não admira que você venha me procurar
Os meus males são pequenos, vivo bem
Não é pra menos que você vem me encontrar
Mas quando eu tanto precisava, meu amor
Como é que é
Onde é que você estava?
Onde é que você estava?
Pela tardes sempre em vão procurei
Fiz alarde da paixão que penei
Pelas ruas tortas que eu percorria
Vi bater as portas, vi morrer os dias
Pelas noites sem luar eu errei
Pelas tantas da manhã eu cansei
Não restou mais nada das lembranças minhas
Nas encruzilhadas, nem nas entrelinhas -
Ela desatinou (Chico Buarque)
Ela desatinou
Viu chegar quarta-feira
Acabar brincadeira
As bandeiras se desmanchando
E ela ainda está sambando
Ela desatinou
Viu morrer alegrias
Rasgar fantasias
Os dias sem sol raiando
E ela ainda está sambando
Ela não vê que toda gente
Já está sofrendo normalmente
Toda cidade anda esquecida
Da falsa vida da avenida
Quem não inveja a infeliz
Feliz no seu mundo de cetim
Assim debochando da dor, do pecado
Do tempo perdido, do jogo acabado -
Trocando em miúdos (Francis Hime / Chico Buarque)
Eu vou lhe deixar a medida do Bonfim
Não me valeu
Mas fico com o disco do Pixinguinha, sim?
O resto é seu
Trocando em miúdos, pode guardar
As sobras de tudo que chamam lar
As sombras de tudo que fomos nós
As marcas do amor nos nossos lençóis
As nossas melhores lembranças
Aquela esperança de tudo se ajeitar
Pode esquecer
Aquela aliança você pode empenhar
Ou derreter
Mas devo dizer que não vou lhe dar
O enorme prazer de me ver chorar
Nem vou lhe cobrar pelo seu estrago
Meu peito tão dilacerado
Aliás, aceite uma ajuda do seu futuro amor pro aluguel
Devolva o Neruda que você me tomou e nunca leu
Eu bato o portão sem fazer alarde
Eu levo a carteira de identidade
Uma saideira, muita saudade
E a leve impressão de que já vou tarde -
O que será (à flor da pele) (Chico Buarque)
O que será que me dá
Que me bole por dentro
Será que me dá
Que brota à flor da pele
Será que me dá
E que me sobe às faces e me faz corar
E que me salta aos olhos a me atraiçoar
E que me aperta o peito e me faz confessar
O que não tem mais jeito de dissimular
E que nem é direito ninguém recusar
E que me faz mendiga, me faz suplicar
O que não tem medida nem nunca terá
O que não tem remédio nem nunca terá
O que não tem receita
O que será que será
O que dá dentro da gente que não devia
Que desacata a gente, que é revelia
Que é feito uma aguardente que não sacia
Que é feito estar doente de uma folia
Que nem dez mandamentos vão conciliar
Nem todos os unguentos vão aliviar
Nem todos os quebrantos, toda a alquimia
Que nem todos os santos
Será que será
O que não tem descanso nem nunca terá
O que não tem cansaço nem nunca terá
O que não tem limite
O que será que me dá
Que me queima por dentro
Será que me dá
Que me perturba o sono, será que me dá
Que todos os tremores me vêm agitar
Que todos os ardores me vêm atiçar
Que todos os suores me vêm encharcar
E todos os meus nervos estão a rogar
E todos os meus órgãos estão a clamar
E uma aflição medonha me faz implorar
O que não tem vergonha nem nunca terá
O que não tem governo nem nunca terá
O que não tem juízo -
Baioque (Chico Buarque)
Quando canto, que se cuide
Quem não for meu irmão
O meu canto
Punhalada
Não conhece perdão
Quando eu rio
Quando rio
Rio seco
Como é seco o sertão
Meu sorriso é uma fenda
Escavada no chão
Quando eu choro
Quando choro é uma enchente
Surpreendendo o verão
É o inverno de repente
Inundando o sertão
Quando eu amo
Quando amo, eu devoro
Todo o meu coração
Eu odeio, eu adoro
Numa mesma oração
Quando canto
Mamie, não quero seguir definhando sol a sol
Me leva daqui, eu quero partir
Requebrando um rock and roll
Nem quero saber como se dança o baião
Eu quero ligar, eu quero um lugar
Ao som de Ipanema, cinema e televisão -
Dueto (com Chico Buarque) (Chico Buarque)
Consta nos astros (Ela)
Nos signos
Nos búzios
Eu li num anúncio
Eu vi no espelho
Tá lá no Evangelho
Garantem os orixás
Serás o meu amor
Serás a minha paz
Consta nos autos (Ele)
Nas bulas, nos dogmas
Eu fiz uma tese
Eu li num tratado
Está computado
Nos dados oficiais
Serás o meu amor
Serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário? (Ela)
E se o calendário nos contrariar? (Ele)
Mas se o destino insistir em nos separar? (Dois)
Danem-se
Os astros (Ela)
Os autos (Ele)
Os signos (Ela)
Os dogmas (Ele)
Os búzios (Ela)
As bulas (Ele)
Anúncios (Ela)
Tratados (Ele)
Ciganas (Ela)
Projetos (Ele)
Profetas (Ela)
Sinopses (Eles)
Espelhos (Ela)
Conselhos (Ele)
Se dane o Evangelho (Dois)
E todos os orixás
Serás o meu amor
Serás, amor, a minha paz
Consta na pauta (Ele)
No karma (Ela)
Na carne (Ele)
Passou na novela (Ela)
Está no seguro (Ele)
Picharam no muro (Ela)
Mandei fazer um cartaz (Ele)
Serás o meu amor (Dois)
Serás a minha paz
Mas se a ciência provar o contrário? (Ele)
E se o calendário nos contrariar? (Ela)
Mas se o destino insistir em nos separar (Dois)
Danem-se
Os astros (Ela)
Os autos (Ele)
Os signos (Ela)
Os dogmas (Ele)
Os búzios (Ela)
As bulas (Ele)
Anúncios (Ela)
Tratados (Ele)
Ciganas (Ela)
Projetos (Ele)
Profetas (Ela)
Sinopses (Eles)
Espelhos (Ela)
Conselhos (Ele)
Se dane o Evangelho (Dois)
E todos os orixás
Serás o meu amor
Serás, amor, a minha paz
Consta nos mapas (Ele)
Nos lábios (Ela)
No lápis (Ele)
Consta nos OVNIS (Ela)
No Pravda (Ele)
Na vodka (Ela) -
Vence na vida quem diz sim (com Chico Buarque) (Chico Buarque / Ruy Guerra)
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te dói o corpo
Diz que sim
Torcem mais um pouco
Diz que sim
Se te dão um soco
Diz que sim
Se te deixam louco
Diz que sim
Se te tratam no chicote
Babam no cangote
Baixa o rosto e aprende um mote
Olhe bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te mandam flores
Diz que sim
Se te dizem horrores
Diz que sim
Mandam pra cozinha
Diz que sim
Chamam pra caminha
Diz que sim
Se te chamam vagabunda
Montam na carcunda
Se te largam moribunda
Olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Se te erguem a taça
Diz que sim
Se te xingam a raça
Diz que sim
Se te chupam a alma
Diz que sim
Se te pedem calma
Diz que sim
Se já estás virando um caco
Vives num buraco
E se é do balacobaco
Olha bem pra mim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim
Vence na vida quem diz sim... -
Samba e Amor (Chico Buarque)
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã
Escuto a correria da cidade
Que arde
E apressa o dia de amanhã
De madrugada a gente ainda se ama
E a fábrica começa a buzinar
O transito contorna nossa cama
Reclama do nosso eterno espreguiçar
No colo da bem-vinda companheira
No corpo do bendito violão
Eu faço samba e amor a noite inteira
Não tenho a quem prestar satisfação
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito mais o que fazer
Escuto a correria da cidade, que alarde
Será que é tão difícil amanhecer?
Não sei se preguiçoso ou se covarde
Debaixo do meu cobertor de lã
Eu faço samba e amor até mais tarde
E tenho muito sono de manhã -
Homenagem ao malandro (Chico Buarque)
Eu fui fazer
Um samba em homenagem
À nata da malandragem
Que eu conheço de outros carnavais
Eu fui à Lapa
E perdi a viagem
Que aquela tal malandragem
Não existe mais
Agora já não é normal
O que dá de malandro
Regular, profissional
Malandro com aparato de malandro oficial
Malandro candidato a malandro federal
Malandro com retrato na coluna social
Malandro com gravata com contrato e capital
E nunca se dá mal
Mas o malandro pra valer, não espalha
Aposentou a navalha
Tem mulher e filho
E tralha e tal
Dizem as más línguas que ele até
Trabalha, mora lá longe e chacoalha
Num trem da Central -
Olhos nos Olhos (Chico Buarque)
Quando você me deixou, meu bem
Me disse pra ser feliz, e passar bem
Quis morrer de ciúme
Quase enlouqueci
Mas depois, como era de costume
Obedeci
Quando você me quiser rever
Já vai me encontrar refeita, pode crer
Olhos nos olhos
Quero ver o que você faz
Ao sentir que sem você eu passo bem demais
E que venho até remoçando
Me pego cantando sem mais, nem porquê
E tantas águas rolaram
Tantos homens me amaram bem mais e melhor que você
Quando talvez precisar de mim
Você sabe que a casa é sempre sua
Venha sim
Olhos nos olhos
Quero ver o que você diz
Quero ver como suporta me ver tão feliz
E venho até remoçando
Me pego cantando sem mais nem porquê -
Mambembe (com Chico Buarque) (Chico Buarque)
No palco, na praça, no circo
Num banco de jardim
Correndo no escuro
Pichado no muro
Você vai saber de mim
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando por baixo da terra
Cantando na boca do povo
Cantando
Mendigo, malandro, moleque, molambo, marginal
Escravo fugido ou louco varrido
Vou fazer meu festival
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Poeta, palhaço, pirata, corisco, errante, judeu
Cantando
Dormindo na estrada
Não é nada, não é nada
E esse mundo é todo meu
Mambembe, cigano
Debaixo da ponte
Cantando
Por baixo da terra
Cantando
Na boca do povo
Cantando
Gravadora: Philips
Direção de produção: Sérgio de Carvalho e Paulinho Tapajós
Técnico de gravação e mixagem: Celinho
Auxiliares de gravação: Iedo e Luisinho Tavares
Estúdio: Somil
Corte: Joaquim Figueira
Montagem: Jairo Gaulberto
Fotos: Ricardo de Vicq
Lay-out: Lobianco
Arte-final: Jorge Vianna