
Coisa do Mundo
1969
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Coisas do mundo, minha nêga (Paulinho da Viola)
Hoje eu vim, minha nega
Como venho quando posso
Na boca as mesmas palavras
No peito o mesmo remorso
Nas mãos a mesma viola onde gravei o teu nome
Venho do samba há tempo, nega, vim parando por aí
Primeiro achei Zé Fuleiro que me falou de doença
Que a sorte nunca lhe chega, está sem amor e sem dinheiro
Perguntou se eu não dispunha de algum que pudesse dar
Puxei então da viola, cantei um samba pra ele
Foi um samba sincopado que zombou do seu azar
Hoje eu vim, minha nega, andar contigo no espaço
Tentar fazer em seus braços um samba puro de amor
Sem melodia ou palavra pra não perder o valor
Depois encontrei seu Bento, nega, que bebeu a noite inteira
Estirou-se na calçada sem ter vontade qualquer
Esqueceu do compromisso que assumiu com a mulher
Não chegar de madrugada, e não beber mais cachaça
Ela fez até promessa, pagou e se arrependeu
Cantei um samba pra ele, que sorriu e adormeceu
Hoje eu vim, minha nega, querendo aquele sorriso
Que tu entregas pro céu quando te aperto em meus braço
Guarda bem minha viola, meu amor e meu cansaço
Por fim eu achei um corpo, nega, iluminado ao redor
Disseram que foi bobagem, um queria ser melhor
Não foi amor nem dinheiro a causa da discussão
Foi apenas um pandeiro que depois ficou no chão
Não tirei minha viola, parei, olhei e vim-me embora
Ninguém compreenderia um samba naquela hora
Hoje eu vim, minha nega, sem saber nada da vida
Querendo aprender contigo a forma de se viver
As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender -
Me dá... Me dá (Cícero Nunes e Portello Juno)
Você já sabe que o meu não é nenhum
Por isso é excusado você me pedir algum
Isto é feio, viver de expedeinte
Você não é aleijado, não é cego e nem doente
Você não tem coragem de enfrentar o batedor
E quando eu lhe vejo chego até a sentir pavor
Tenho a certeza que você vem conversar
Com a velha conversa do
“Me dá, me dá, me dá
Quatro tostões pra mim jantar
Me dá, me dá”
“Não dou, não dou”
E vi contar vantagem que você nunca se cansa
Sempre com a conversa
Que vai receber herança
dia pra dia você está derretendo
se a herança não vier você vai acabar morrendo
E vo-vo-você não reflete, está atrapalhado
sempre com a mania de ser cantor de rádio
vou lhe dar um conselho arranje uma colocação
porque sopa de vento não é alimentação
vai quebrar pedra na pedreira
que é bem bom pro seu pulmão.
Você já sabe que o meu não é nenhum
Por isso é excusado você me pedir algum
Isto é feio, viver de expedeinte
Você não é aleijado, não é cego e nem doente
Você não tem coragem de enfrentar o batedor
E quando eu lhe vejo chego até a sentir pavor
Tenho a certeza que você vem conversar
Com a velha conversa do
“Me dá me dá me dá
Quatro tostões pra mim jantar
Me dá me dá”
“Não dou não dou”
“Me dá me dá” -
Atrás do trio elétrico (Caetano Veloso)
Atrás do trio elétrico
Só não vai quem já morreu
Quem já botou pra rachar
Aprendeu, que é do outro lado
Do lado de lá do lado
Que é lá do lado de lá
O sol é seu
O som é meu
Quero morrer
Quero morrer já
O som é seu
O sol é meu
Quero viver
Quero viver lá
Nem quero saber se o diabo
Nasceu, foi na bahi ...
Foi na bahia
O trio elétrico
O sol rompeu
No meio-dia
No meio-dia -
Azulão (Jayme Ovalle e Manuel Bandeira)
Azulão,Azulão companheiro, vai
Vai ver minha ingrata
Diz que sem ela o sertão não é mais sertão
Ah!Voa azulão
Vai contar companheiro
Vai azulão, Azulão... -
Tambores da paz (Sidney Miller)
Ouço batidas ao longo, muito longe,
Quem será?
Vejo a poeira crescendo no horizonte,
Quem vem lá?
Talvez uma escola de samba
A invasão do planeta
Um desfile de modas
Ao som de cornetas triunfais
Das bandas marciais
São os tambores da paz
Que vem rufando de alegria
Cores, bandeiras ao vento me acenando
Quem diria?
E eu que pensava tão triste o momento presente
As batlhas campais
Encontro os sorrisos nos lares, nos bares,
Nos mares tropicais
Garçom, me traga uma cachaça
É preciso mudar esse tom de agonia
É preciso beber à guerra fria
É preciso morena o seu abraço
Tambores de paz me trouxeram aos seus braços
Ouve os gemidos de amor
É preciso uma vida serena
Pra fingir carnaval
São tambores de paz
Morena -
Parabién de la Paloma (Rolando Alácron / Versão: Nara Leão)
La paloma se murió
y el palomo no sabía
Foi a pomba que morreu
E o pombo não sabia
Levanta-te minha pombinha
Lhe dizia, lhe dizia,
Nós iremos nos casar
Assim que romper o dia
Qué parabienes tristes
tengo que cantar yo.
La paloma se murió
y el palomo está llorando.
Foi a pomba morreu
E o pombo está chorando
Pobre pobre do pombinho
Para onde está voando
Não há mais luzes na igreja
Nem alegrias nem cantos
Qué parabienes tristes
tengo que cantar yo.
La paloma se murió,
se murió con un disparo.
Foi a pomba que morreu
E morreu com um disparo
Um homem fez pontaria
Tendo seu fuzil na mão
Para sempre esperaram
Seus irmãos dentro da Igreja
Qué parabienes tristes
tengo que cantar yo.
La paloma se murió,
llorando se queda un niño.
Foi a pomba que morreu
E chorando fica um menino.
Um homem com um fuzil
Nunca sabe o que é carinho
Nunca entrou em uma igraja
Nunca acendeu um cirio
Qué parabienes tristes
tengo que cantar yo.
La paloma se murió,
la mató un hombre cobarde
Foi a pomba que morreu
E a matou foi um covarde
Sabendo que era inocente
Castiguemos o culpado
No lo perdona el palomo,
no lo perdona su madre.
Qué parabienes tristes
tengo que cantar yo.
La paloma se murió,
señores aquí presentes.
Foi a pomba que morreu
Senhores aqui presentes
O homem vendeu o fuzil
Que continua sua matança
Disparando sobre irmãos
Destruindo continentes
Qué parabienes tristes
tengo que cantar yo. -
Pisa na fulô (João do Vale. E. Pires e S. Junior)
Pisa na fulô, pisa na fulô
Pisa na fulô
Não maltrata o meu amor
Um dia desses
Fui dançar lá em Pedreiras
Na rua da Golada
Eu gostei da brincadeira
Zé Cachngá era o tocador
Mas só tocava
Pisa na fulô
Pisa na fulô, pisa na fulô...
Seu Serafim cochichava com Dió
Sou capaz de jurar
Que nunca vi forró mió
Inté vovó
Garrou na mão do vovô
vamos embora meu veinho
Pisa na fulô
Pisa na fulô, pisa na fulô...
Eu vi menina que tinha doze anos
Agarrar seu par
E também sair dançando
satisfeita, dizendo
"Meu amor ai como
É gostoso pisa na fulô"
Pisa na fulô, pisa na fulô...
De magrugada Zeca Cachangá
Disse ao dono da casa
"Não precisa me pagar
Mas por favor
Arranja outro tocador
Que eu também quero
Pisa na fulô"
Pisa na fulô, pisa na fulô... -
Fez bobagem (Assis Valente)
Meu moreno fez bobagem
Maltratou meu pobre coração
Aproveitou a minha ausência
E botou mulher sambando no meu barracão
Quando eu penso que outra mulher
Requebrou pra meu moreno ver
Nem dá jeito de cantar
Dá vontade de chorar
E de morrer
Deixou que ela passeasse na favela com meu peignoir
Minha sandália de veludo deu à ela para sapatear
E eu bem longe me acabando
Trabalhando pra viver
Por causa dele dancei rumba e fox-trote
Para inglês ver -
Little boxes (Reynolds / Versão: Nara Leão)
Uma caixa bem na praça, uma caixa bem quadradinha
Uma caixa, outra caixa, todas elas iguaizinhas
Uma verde, outra rosa e uma bem amarelinha
Todas elas feitas de tic tac, todas elas iguaizinhas
As pessoas dessas casas vão todas pra universidade
Onde entram em caixinhas quadradinhas iguaizinhas
Saem doutores, advogados, banqueiros de bons negócios
Todos eles feitos de tic tac, todos, todos iguaizinhos
Jogam golf, jogam pólo, bebendo um bom martini dry
Todos têm lindos filhinhos bonequinhos engomadinhos
As crianças vão pra escola, depois pra universidade
Onde entram em caixinhas e saem todas iguaizinhas
Os rapazes ficam ricos e formam uma família
Todos eles em caixinhas, em casinhas iguaizinhas
Uma verde, outra rosa e outra bem amarelinha
E são todas feitas de tic tac, todas, todas iguaizinhas -
Poema da rosa (Macalé e Augusto Boal)
Há uma rosa Linda
No Meio Do Meu Jardim
Dessa Rosa Cuida Eu
Quem Cuidará De Mim?
De Manhã Desabrochou
À Tarde Foi Escolhida
Pra De Noite Ser Levada
De Presente A Minha Amiga
Feliz De Quem Possui
Uma Rosa Em Seu Jardim
A Minha Amiga Com Certeza
Pensa Agora Só Em Mim
Quando Sopra O Vento Frio
E O Inverno Gela O Jardim
Eu Tenho Calor Em Casa
E Fico Quietinho Assim
Feliz De Quem Tem O Seu Teto
Pra Ajudar A Sua Amiga
A Fugir Do Vento Ruim
Que Deixa Gelado O Jardim -
Apanhei-te cavaquinho (Ernesto Nazareth e Ubaldo)
Com esse chorinho, o "Apanhei-te, Cavaquinho"
Meu piano tão certinho vai seguindo seu caminho
E a viola na calçada vai ficando encabulada
Vai tentando e vai tocando, mas tão longe do chorinho
E sendo assim eu vou tocando à minha moda
Nem te ligo, não dou bola, nem escuto essa viola
Vou seguindo em desparada nessa noite enluarada
Preparei-te uma surpresa e apanhei-te cavaquinho!
Meu choro que cantava só saudades, tristezas, temores
Hoje não sabe o que é viver a vida, esqueceu-se dos amores
Eu acho graça ao ver alguém lá fora, a sofrer e a chorar
Hoje, nada ele consegue, nem sequer me acompanhar
E o meu chorinho vai seguindo o seu caminho
Caminhando de mansinho, o "Apanhei-te, Cavaquinho"
O meu piano ele é sabido, meu piano é meu amigo
Mais esperto, inteligente que qualquer violãozinho
E sendo assim eu vou tocando à minha moda
Nem te ligo, não dou bola, nem escuto essa viola
Vou andando disparado, vou na frente, vou sozinho
Desta vez eu te apanhei mas apanhei-te, cavaquinho!
Se andar depressa pode ser que me apanhe
E que ainda me acompanhe
Nessa dança que eu marco o passo
E que vou variando o compasso
E copiando ele quer ver como é que eu faço
Vai tentando aprender
Como tocar um bom chorinho
Mas te apanhei, meu cavaquinho
E o meu chorinho vai seguindo seu caminho,
Caminhando de mansinho, o "Apanhei-te, Cavaquinho"
Vai andando disparado, vai na frente, vai sozinho
Desta vez eu te apanhei mas apanhei-te, cavaquinho! -
La Colombe (Jacques Brel / Versão: Nara Leão)
Por que essa fanfarra
Se os homens enfileirados
Esperam o massacre
E vão morrer ou matar
Porque esse trem sem cores
Que ronca altos suspiros
Para nos conduzir
A tragédia e a mentira
Por que a música e o canto
A multidão que traz flores
E parece festejar
Aqueles que não vão voltar
Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer
Por que chega o momento
Onde termina a infância
E acaba toda chance
De se viver a paz
Por que vagam pesado
Tão depressa, carregado
De rostos cor de cinza
Que se vão pra nunca mais
Por que esse trem de chuva
Por que esse trem guerreiro
Por que esse cimitério
Em direção à noite
Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer
Por que tantos discursos
Para saudar os mortos
E sempre as frases feitas
Nos enterros de seus corpos
Por que a criança morta
Para saudar a vitória
Por que o dia de glória
E o sangue derrmado
Por que toda essa terra
Coberta de cinzas e cruzes
Por que toda essa guerra
Se a pomba ficou ferida
Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer
Onde o teu caro rosto
Desfigurado pela lágrima
Enfeiado de desgosto
Quando limpava nossas armas
E teu corpo sombrio
Que ao longe desaparece
Essa chuva no cais
Uma flor nesse túmulo
Como viver um novo dia
Se os amigos não voltaram
Onde encontrar alegria
Que fazer desse amanhã
Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer
Gravadora: Philips
Produtor artístico: Sidney Miller
Arranjos: Sidney Miller, exceto faixas 6 e 11 (Nara Leão)
Técnicos de som: Deraldo José de Oliveira e Odilon de Azevedo Borges
Estúdio: Haway e Musidisc
Layout e foto: Roberto Maia e Vicente Formiga