álbum

Nara (1964)

Coisa do Mundo

1969

músicas / letras (clique nas músicas para ver as letras)

  1. Coisas do mundo, minha nêga (Paulinho da Viola)

    Hoje eu vim, minha nega
    Como venho quando posso
    Na boca as mesmas palavras
    No peito o mesmo remorso
    Nas mãos a mesma viola onde gravei o teu nome

    Venho do samba há tempo, nega, vim parando por aí
    Primeiro achei Zé Fuleiro que me falou de doença
    Que a sorte nunca lhe chega, está sem amor e sem dinheiro
    Perguntou se eu não dispunha de algum que pudesse dar
    Puxei então da viola, cantei um samba pra ele
    Foi um samba sincopado que zombou do seu azar

    Hoje eu vim, minha nega, andar contigo no espaço
    Tentar fazer em seus braços um samba puro de amor
    Sem melodia ou palavra pra não perder o valor

    Depois encontrei seu Bento, nega, que bebeu a noite inteira
    Estirou-se na calçada sem ter vontade qualquer
    Esqueceu do compromisso que assumiu com a mulher
    Não chegar de madrugada, e não beber mais cachaça
    Ela fez até promessa, pagou e se arrependeu
    Cantei um samba pra ele, que sorriu e adormeceu

    Hoje eu vim, minha nega, querendo aquele sorriso
    Que tu entregas pro céu quando te aperto em meus braço
    Guarda bem minha viola, meu amor e meu cansaço

    Por fim eu achei um corpo, nega, iluminado ao redor
    Disseram que foi bobagem, um queria ser melhor
    Não foi amor nem dinheiro a causa da discussão
    Foi apenas um pandeiro que depois ficou no chão
    Não tirei minha viola, parei, olhei e vim-me embora
    Ninguém compreenderia um samba naquela hora

    Hoje eu vim, minha nega, sem saber nada da vida
    Querendo aprender contigo a forma de se viver
    As coisas estão no mundo só que eu preciso aprender

  2. Me dá... Me dá (Cícero Nunes e Portello Juno)

    Você já sabe que o meu não é nenhum
    Por isso é excusado você me pedir algum
    Isto é feio, viver de expedeinte
    Você não é aleijado, não é cego e nem doente

    Você não tem coragem de enfrentar o batedor
    E quando eu lhe vejo chego até a sentir pavor
    Tenho a certeza que você vem conversar
    Com a velha conversa do
    “Me dá, me dá, me dá
    Quatro tostões pra mim jantar
    Me dá, me dá”
    “Não dou, não dou”

    E vi contar vantagem que você nunca se cansa
    Sempre com a conversa
    Que vai receber herança
    dia pra dia você está derretendo
    se a herança não vier você vai acabar morrendo

    E vo-vo-você não reflete, está atrapalhado
    sempre com a mania de ser cantor de rádio
    vou lhe dar um conselho arranje uma colocação
    porque sopa de vento não é alimentação
    vai quebrar pedra na pedreira
    que é bem bom pro seu pulmão.

    Você já sabe que o meu não é nenhum
    Por isso é excusado você me pedir algum
    Isto é feio, viver de expedeinte
    Você não é aleijado, não é cego e nem doente
    Você não tem coragem de enfrentar o batedor
    E quando eu lhe vejo chego até a sentir pavor
    Tenho a certeza que você vem conversar
    Com a velha conversa do
    “Me dá me dá me dá
    Quatro tostões pra mim jantar
    Me dá me dá”
    “Não dou não dou”
    “Me dá me dá”

  3. Atrás do trio elétrico (Caetano Veloso)

    Atrás do trio elétrico
    Só não vai quem já morreu
    Quem já botou pra rachar
    Aprendeu, que é do outro lado
    Do lado de lá do lado
    Que é lá do lado de lá

    O sol é seu
    O som é meu
    Quero morrer
    Quero morrer já

    O som é seu
    O sol é meu
    Quero viver
    Quero viver lá

    Nem quero saber se o diabo
    Nasceu, foi na bahi ...
    Foi na bahia
    O trio elétrico
    O sol rompeu
    No meio-dia
    No meio-dia

  4. Azulão (Jayme Ovalle e Manuel Bandeira)

    Azulão,Azulão companheiro, vai
    Vai ver minha ingrata
    Diz que sem ela o sertão não é mais sertão
    Ah!Voa azulão
    Vai contar companheiro
    Vai azulão, Azulão...

  5. Tambores da paz (Sidney Miller)

    Ouço batidas ao longo, muito longe,
    Quem será?
    Vejo a poeira crescendo no horizonte,
    Quem vem lá?
    Talvez uma escola de samba
    A invasão do planeta
    Um desfile de modas
    Ao som de cornetas triunfais
    Das bandas marciais

    São os tambores da paz
    Que vem rufando de alegria
    Cores, bandeiras ao vento me acenando
    Quem diria?
    E eu que pensava tão triste o momento presente
    As batlhas campais
    Encontro os sorrisos nos lares, nos bares,
    Nos mares tropicais

    Garçom, me traga uma cachaça
    É preciso mudar esse tom de agonia
    É preciso beber à guerra fria
    É preciso morena o seu abraço
    Tambores de paz me trouxeram aos seus braços
    Ouve os gemidos de amor
    É preciso uma vida serena
    Pra fingir carnaval
    São tambores de paz
    Morena

  6. Parabién de la Paloma (Rolando Alácron / Versão: Nara Leão)

    La paloma se murió
    y el palomo no sabía
    Foi a pomba que morreu
    E o pombo não sabia
    Levanta-te minha pombinha
    Lhe dizia, lhe dizia,
    Nós iremos nos casar
    Assim que romper o dia
    Qué parabienes tristes
    tengo que cantar yo.

    La paloma se murió
    y el palomo está llorando.
    Foi a pomba morreu
    E o pombo está chorando
    Pobre pobre do pombinho
    Para onde está voando
    Não há mais luzes na igreja
    Nem alegrias nem cantos
    Qué parabienes tristes
    tengo que cantar yo.

    La paloma se murió,
    se murió con un disparo.
    Foi a pomba que morreu
    E morreu com um disparo
    Um homem fez pontaria
    Tendo seu fuzil na mão
    Para sempre esperaram
    Seus irmãos dentro da Igreja
    Qué parabienes tristes
    tengo que cantar yo.

    La paloma se murió,
    llorando se queda un niño.
    Foi a pomba que morreu
    E chorando fica um menino.
    Um homem com um fuzil
    Nunca sabe o que é carinho
    Nunca entrou em uma igraja
    Nunca acendeu um cirio
    Qué parabienes tristes
    tengo que cantar yo.

    La paloma se murió,
    la mató un hombre cobarde
    Foi a pomba que morreu
    E a matou foi um covarde
    Sabendo que era inocente
    Castiguemos o culpado
    No lo perdona el palomo,
    no lo perdona su madre.
    Qué parabienes tristes
    tengo que cantar yo.

    La paloma se murió,
    señores aquí presentes.
    Foi a pomba que morreu
    Senhores aqui presentes
    O homem vendeu o fuzil
    Que continua sua matança
    Disparando sobre irmãos
    Destruindo continentes
    Qué parabienes tristes
    tengo que cantar yo.

  7. Pisa na fulô (João do Vale. E. Pires e S. Junior)

    Pisa na fulô, pisa na fulô
    Pisa na fulô
    Não maltrata o meu amor

    Um dia desses
    Fui dançar lá em Pedreiras
    Na rua da Golada
    Eu gostei da brincadeira
    Zé Cachngá era o tocador
    Mas só tocava
    Pisa na fulô

    Pisa na fulô, pisa na fulô...
    Seu Serafim cochichava com Dió
    Sou capaz de jurar
    Que nunca vi forró mió
    Inté vovó
    Garrou na mão do vovô
    vamos embora meu veinho
    Pisa na fulô

    Pisa na fulô, pisa na fulô...
    Eu vi menina que tinha doze anos
    Agarrar seu par
    E também sair dançando
    satisfeita, dizendo
    "Meu amor ai como
    É gostoso pisa na fulô"

    Pisa na fulô, pisa na fulô...
    De magrugada Zeca Cachangá
    Disse ao dono da casa
    "Não precisa me pagar
    Mas por favor
    Arranja outro tocador
    Que eu também quero
    Pisa na fulô"

    Pisa na fulô, pisa na fulô...

  8. Fez bobagem (Assis Valente)

    Meu moreno fez bobagem
    Maltratou meu pobre coração
    Aproveitou a minha ausência
    E botou mulher sambando no meu barracão
    Quando eu penso que outra mulher
    Requebrou pra meu moreno ver
    Nem dá jeito de cantar
    Dá vontade de chorar
    E de morrer
    Deixou que ela passeasse na favela com meu peignoir
    Minha sandália de veludo deu à ela para sapatear
    E eu bem longe me acabando
    Trabalhando pra viver
    Por causa dele dancei rumba e fox-trote
    Para inglês ver

  9. Little boxes (Reynolds / Versão: Nara Leão)

    Uma caixa bem na praça, uma caixa bem quadradinha
    Uma caixa, outra caixa, todas elas iguaizinhas
    Uma verde, outra rosa e uma bem amarelinha
    Todas elas feitas de tic tac, todas elas iguaizinhas

    As pessoas dessas casas vão todas pra universidade
    Onde entram em caixinhas quadradinhas iguaizinhas
    Saem doutores, advogados, banqueiros de bons negócios
    Todos eles feitos de tic tac, todos, todos iguaizinhos

    Jogam golf, jogam pólo, bebendo um bom martini dry
    Todos têm lindos filhinhos bonequinhos engomadinhos
    As crianças vão pra escola, depois pra universidade
    Onde entram em caixinhas e saem todas iguaizinhas

    Os rapazes ficam ricos e formam uma família
    Todos eles em caixinhas, em casinhas iguaizinhas
    Uma verde, outra rosa e outra bem amarelinha
    E são todas feitas de tic tac, todas, todas iguaizinhas

  10. Poema da rosa (Macalé e Augusto Boal)

    Há uma rosa Linda
    No Meio Do Meu Jardim
    Dessa Rosa Cuida Eu
    Quem Cuidará De Mim?
    De Manhã Desabrochou
    À Tarde Foi Escolhida
    Pra De Noite Ser Levada
    De Presente A Minha Amiga
    Feliz De Quem Possui
    Uma Rosa Em Seu Jardim
    A Minha Amiga Com Certeza
    Pensa Agora Só Em Mim
    Quando Sopra O Vento Frio
    E O Inverno Gela O Jardim
    Eu Tenho Calor Em Casa
    E Fico Quietinho Assim
    Feliz De Quem Tem O Seu Teto
    Pra Ajudar A Sua Amiga
    A Fugir Do Vento Ruim
    Que Deixa Gelado O Jardim

  11. Apanhei-te cavaquinho (Ernesto Nazareth e Ubaldo)

    Com esse chorinho, o "Apanhei-te, Cavaquinho"
    Meu piano tão certinho vai seguindo seu caminho
    E a viola na calçada vai ficando encabulada
    Vai tentando e vai tocando, mas tão longe do chorinho

    E sendo assim eu vou tocando à minha moda
    Nem te ligo, não dou bola, nem escuto essa viola
    Vou seguindo em desparada nessa noite enluarada
    Preparei-te uma surpresa e apanhei-te cavaquinho!

    Meu choro que cantava só saudades, tristezas, temores
    Hoje não sabe o que é viver a vida, esqueceu-se dos amores
    Eu acho graça ao ver alguém lá fora, a sofrer e a chorar
    Hoje, nada ele consegue, nem sequer me acompanhar

    E o meu chorinho vai seguindo o seu caminho
    Caminhando de mansinho, o "Apanhei-te, Cavaquinho"
    O meu piano ele é sabido, meu piano é meu amigo
    Mais esperto, inteligente que qualquer violãozinho

    E sendo assim eu vou tocando à minha moda
    Nem te ligo, não dou bola, nem escuto essa viola
    Vou andando disparado, vou na frente, vou sozinho
    Desta vez eu te apanhei mas apanhei-te, cavaquinho!

    Se andar depressa pode ser que me apanhe
    E que ainda me acompanhe
    Nessa dança que eu marco o passo
    E que vou variando o compasso
    E copiando ele quer ver como é que eu faço
    Vai tentando aprender
    Como tocar um bom chorinho
    Mas te apanhei, meu cavaquinho

    E o meu chorinho vai seguindo seu caminho,
    Caminhando de mansinho, o "Apanhei-te, Cavaquinho"
    Vai andando disparado, vai na frente, vai sozinho
    Desta vez eu te apanhei mas apanhei-te, cavaquinho!

  12. La Colombe (Jacques Brel / Versão: Nara Leão)

    Por que essa fanfarra
    Se os homens enfileirados
    Esperam o massacre
    E vão morrer ou matar
    Porque esse trem sem cores
    Que ronca altos suspiros
    Para nos conduzir
    A tragédia e a mentira
    Por que a música e o canto
    A multidão que traz flores
    E parece festejar
    Aqueles que não vão voltar

    Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
    Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer

    Por que chega o momento
    Onde termina a infância
    E acaba toda chance
    De se viver a paz
    Por que vagam pesado
    Tão depressa, carregado
    De rostos cor de cinza
    Que se vão pra nunca mais
    Por que esse trem de chuva
    Por que esse trem guerreiro
    Por que esse cimitério
    Em direção à noite

    Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
    Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer

    Por que tantos discursos
    Para saudar os mortos
    E sempre as frases feitas
    Nos enterros de seus corpos
    Por que a criança morta
    Para saudar a vitória
    Por que o dia de glória
    E o sangue derrmado
    Por que toda essa terra
    Coberta de cinzas e cruzes
    Por que toda essa guerra
    Se a pomba ficou ferida

    Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
    Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer

    Onde o teu caro rosto
    Desfigurado pela lágrima
    Enfeiado de desgosto
    Quando limpava nossas armas
    E teu corpo sombrio
    Que ao longe desaparece
    Essa chuva no cais
    Uma flor nesse túmulo

    Como viver um novo dia
    Se os amigos não voltaram
    Onde encontrar alegria
    Que fazer desse amanhã

    Nous n'irons plus au bois, la colombe est blessée
    Nous n'allons pas au bois, nous allons la tuer

ficha técnica

Gravadora: Philips

Produtor artístico: Sidney Miller

Arranjos: Sidney Miller, exceto faixas 6 e 11 (Nara Leão)

Técnicos de som: Deraldo José de Oliveira e Odilon de Azevedo Borges

Estúdio: Haway e Musidisc

Layout e foto: Roberto Maia e Vicente Formiga