álbum

Nara (1964)

Nara

1968

músicas / letras (clique nas músicas para ver as letras)

  1. Lindonéia (Caetano Veloso e Gilberto Gil)

    Na frente do espelho
    Sem que ninguém a visse
    Miss, linda, feia
    Lindonéia desaparecida

    Despedaçados
    Atropelados
    Cachorros mortos nas ruas
    Policiais vigiando
    O sol batendo nas frutas
    Sangrando
    Oh, meu amor
    A solidão vai me matar de dor

    Lindonéia, cor parda
    Fruta na feira
    Lindonéia solteira
    Lindonéia, domingo
    Segunda-feira

    Lindonéia desaparecida
    Na igreja, no andor
    Lindonéia desaparecida
    Na preguiça, no progresso
    Lindonéia desaparecida
    Nas paradas de sucesso

    Ah, meu amor
    A solidão vai me matar de dor

    No avesso do espelho
    Mas desaparecida
    Ela aparece na fotografia
    Do outro lado da vida
    Despedaçados, atropelados
    Cachorros mortos nas ruas
    Policiais vigiando
    O sol batendo nas frutas
    Sangrando

    Oh, meu amor
    A solidão vai me matar de dor
    Vai me matar
    Vai me matar de dor

  2. Quem é (Custódio Mesquista e Joracy camargo)

    Quem é que muda os botõezinhos da camisa
    quem é que diz um adeusinho no portão
    e de manhã não faz barulho quando pisa
    e quando pedes qualquer coisa não diz não.

    Quem é que sempre dá um laço na gravata,
    quem é que arruma teus papéis na escrivaninha
    quem é que faz o teu bifinho com batatas
    e esfrega tanto as lindas mãos lá na cozinha.

    E no entretanto é só você que não me liga
    e ainda descobre sempre em mim cada defeito
    pois é talvez porque eu sou muito sua amiga
    e nunca estás por isso mesmo satisfeito.

    Quem é que reza por você lá no oratório
    quem é que espera por você sempre chorando
    quem é que sabe que não paras no escritório
    e acredita que estivestes trabalhando.

    Quem é que trata dos botões da tua roupa
    quem é que mais economiza luz e gás
    quem é que sopra no jantar a tua sopa
    quem é que diz no telefone que não estás.

    E no entretanto você pensa em me deixar
    leva dizendo que eu sou qual não sei o que
    e no entretanto você vai me abandonar
    mas é porque eu sou louquinha por você.

  3. Donzela por piedade não perturbes (J.S. Arvelos)

    Donzela por piedade não perturbes
    A paz que se abrigou no peito meu

    Ah não venhas com teus cantos de ilusões
    Recordar um amor que já foi teu.

    Amei-te sim ó virgem, amei-te
    Tanto quanto um coração amar podia
    No verdor dos meus anos consagrei-te
    Aos enlevos de meiga poesia

  4. Mamãe Coragem (Caetano Veloso e Torquato Neto)

    Mamãe, mamãe não chore
    A vida é assim mesmo eu fui embora
    Mamãe, mamãe não chore
    Eu nunca mais vou voltar por aí
    Mamãe, mamãe não chore
    A vida é assim mesmo eu quero mesmo é isto aqui
    Mamãe, mamãe não chore
    Pegue uns panos pra lavar, leia um romance
    Veja as contas do mercado, pague as prestações
    Ser mãe é desdobrar fibra por fibra os corações dos filhos
    Seja feliz, seja feliz
    Mamãe, mamãe não chore
    Eu quero, eu posso, eu quis, eu fiz, Mamãe, seja feliz
    Mamãe, mamãe não chore
    Não chore nunca mais, não adianta eu tenho um beijo preso na garganta
    Eu tenho um jeito de quem não se espanta (Braço de ouro vale 10 milhões)
    Eu tenho corações fora peito
    Mamãe, não chore, não tem jeito
    Pegue uns panos pra lavar leia um romance
    Leia "Elzira, a morta virgem", "O Grande Industrial"
    Eu por aqui vou indo muito bem , de vez em quando brinco Carnaval
    E vou vivendo assim: felicidade na cidade que eu plantei pra mim
    E que não tem mais fim, não tem mais fim, não tem mais fim

  5. Anoiteceu (Vinícius de Moraes e Francis Hime)

    A luz morreu, o céu perdeu a cor
    Anoiteceu no nosso grande amor

    Ah! Leva a solidão de mim
    Tira esse amor dos olhos meus
    Tira a tristeza ruim do adeus
    Que ficou em mim
    Que não sai de mim
    Pelo amor de Deus.

    Vem suavizar a dor
    Dessa paixão que anoiteceu
    Vem e apaga do corpo meu
    Cada beijo seu
    Porque foi assim
    Que ela me enlouqueceu.

    Fatal, cruel,
    Cruel demais
    Mas não faz mal
    Quem ama não tem paz.

  6. Modinha (Serestas – peça n°5) (Heitor Villa Lobos e Manduca Piá)

    Na solidãio da minha vida
    Morrerie querida do teu desamor
    Muito embora me desprezes
    Te amarei constante
    Sem que a ti distante
    Chegue a luz de triste voz
    Do trovador.

    Feliz te quero mais se um dia
    Toda essa alegria se mudaase em dor
    Ouvirias do passado
    A voz do meu carinho
    Repetir baixinho
    Meretriste confissão
    Do meu amor.

  7. Infelizmente (Ary Pavão e Lamrtine Babo)

    Eu tenho inveja dos mocinhos da Avenida
    de ombros largos e elegância nos quadris
    Roupa lavada, casa, luz e até comida
    Tudo de graça, ó que gente tão feliz!

    Infelizmente eu trabalho muito!

    Conheço um "cabra" que tem sorte até comendo
    Freqüenta um "china" bem ali na rua Sete
    Um dia desses, vejam só, caso estupendo!
    Achou um relógio na barriga de um croquete!

    Infelizmente eu almoço em casa!

    Eu quando vejo um baile de alta-sociedade
    Lindas casacas, toaletes formidáveis
    de terno-saco dou uma volta na cidade
    Tomo uma média, vão-se os níqueis miseráveis

    Infelizmente sou da classe-média!

    Se me apresentam uma menina espevitada
    que bebe e fuma e dança o fox-trot blue
    finjo que entendo e afinal não entendo nada
    Envergonhado, cabisbaixo, jururu!

    Infelizmente já passei da idade!

  8. Odeon (Ernesto Nazareth e Vinícius de Moraes)

    Ai, quem me dera
    O meu chorinho
    Tanto tempo abandonado
    E a melancolia que eu sentia
    Quando ouvia
    Ele fazer tanto chorar
    Ai, nem me lembro
    Há tanto, tanto
    Todo o encanto
    De um passado
    Que era lindo
    Era triste, era bom
    Igualzinho a um chorinho
    Chamado odeon

    Terçando flauta e cavaquinho
    Meu chorinho se desata
    Tira da canção do violão
    Esse bordão
    Que me dá vida
    Que me mata
    É só carinho
    O meu chorinho
    Quando pega e chega
    Assim devagarzinho
    Meia-luz, meia-voz, meio tom
    Meu chorinho chamado odeon

    Ah, vem depressa
    Chorinho querido, vem
    Mostrar a graça
    Que o choro sentido tem
    Quanto tempo passou
    Quanta coisa mudou
    Já ninguém chora mais por ninguém

    Ah, quem diria que um dia
    Chorinho meu, você viria

    Com a graça que o amor lhe deu
    Pra dizer "não faz mal
    Tanto faz, tanto fez
    Eu voltei pra chorar com vocês"

    Chora bastante meu chorinho
    Teu chorinho de saudade
    Diz ao bandolim pra não tocar
    Tão lindo assim
    Porque parece até maldade
    Ai, meu chorinho
    Eu só queria
    Transformar em realidade
    A poesia
    Ai, que lindo, ai, que triste, ai, que bom
    De um chorinho chamado odeon

    Chorinho antigo, chorinho amigo
    Eu até hoje ainda percebo essa ilusão
    Essa saudade que vai comigo
    E até parece aquela prece
    Que sai só do coração
    Se eu pudesse recordar
    E ser criança
    Se eu pudesse renovar
    Minha esperança
    Se eu pudesse me lembrar
    Como se dança
    Esse chorinho
    Que hoje em dia
    Ninguém sabe mais

  9. Mulher (Custódio Mesquita e Sady Cabral)

    Não sei
    Que intensa magia
    Teu corpo irradia
    Que me deixa louco assim
    Mulher
    Não sei
    Teus olhos castanhos
    Profundos, estranhos
    Que mistério ocultarão
    Mulher
    Não sei dizer
    Mulher
    Só sei que sem alma
    Roubaste-me a calma
    E a teus pés eu fico a implorar
    O teu amor tem um gosto amargo
    E eu fico sempre a chorar nesta dor
    Por teu amor
    Por teu amor
    Mulher

  10. Medroso de Amor (Alberto Neponucemo e Juvenal Galeno)

    Moreninha
    Não sorrias com meiguice
    Com ternura
    Não sorrias com meiguice
    Este riso de candura não desfolhes
    Não sorrias
    Que eu tenho medo de amores
    Que só trazem desventuras.

    Moreninha
    Não me fites como agora
    Apaixonada
    Não me fite como agora
    Moreninha
    Este olhar toda elevada
    Não desprendas
    Não me fites
    Pois assim derramas fogo
    Em minh’alma regelada.

    Moreninh, moreninha
    Vai-te embora
    Com teus encoantos maltratas
    Moreninha vai-te embora
    Eu fui mártir das ingratas quando amei
    Ó vai-te embora
    Hoje fujo das mulheres
    Pois fui mártir das ingratas.

  11. Deus vos salve esta casa santa (Caetano Veloso e Torquato Neto)

    Um bom menino perdeu-se um dia
    Entre a cozinha e o corredor
    O pai deu ordem a toda família
    Que o procurasse e ninguém achou
    A mãe deu ordem a toda polícia
    Que o perseguisse e ninguém achou

    Ó deus vos salve esta casa santa
    Onde a gente janta com nossos pais
    Ó deus vos salve essa mesa farta
    Feijão verdura ternura e paz

    No apartamento vizinho ao meu
    Que fica em frente ao elevador
    Mora uma gente que não se entende
    Que não entende o que se passou
    Maria amélia, filha da casa,
    Passou da idade e não se casou

    Ó deus vos salve esta casa santa
    Onde a gente janta com nossos pais
    Ó deus vos salve essa mesa farta
    Feijão verdura ternura e paz

    Um trem de ferro sobre o colchão
    A porta aberta pra escuridão
    A luz mortiça ilumina a mesa
    E a brasa acesa queima o porão
    Os pais conversam na sala e a moça
    Olha em silêncio pro seu irmão

    Ó deus vos salve esta casa santa
    Onde a gente janta com nossos pais
    Ó deus vos salve essa mesa farta
    Feijão verdura ternura e paz

  12. Tema de “Os Inconfidentes” (Chico Buarque de Hollada / Cecília Meireles)

    Toda vez que um justo grita
    Um carrasco vem calar
    Quem não presta fica vivo
    Quem é bom mandam matar.

    De um poema a Tiradentes, mártir da liberdade:

    Do Caeté à Vila Rica
    É tudo ouro e cobre
    O que é nosso vão levando
    E o povo aqui sempre pobre

    Foi trabalhar para todos
    E vede o que lhe acontece
    Daqueles a quem servia
    Já nem um mais lhe conhece
    Quando a desgraça é profunda
    Que amigo se compadece

    Foi trabalhar para todos
    Mas por ele quem trabalha?
    Tombado fica seu corpo
    Nessa esquisita batalha
    Suas ações e seu nome
    Por onde a glória os espalha

ficha técnica

Gravadora: Philips

Arranjos e regências: Rogério Duprat

Produção: Manoel Barenbein

Técnicos de som: José Carlos, Stelio e João

Capa: Pedro Moraes (foto)

Estúdios Scatena (São Paulo)