álbum

Nara (1964)

Vento de Maio

1967

músicas / letras

A primeira vez que vi Nara Leão achei que ela era a Musa, minha e da bossa nova. Depois, Nara foi se desmusando, se desmusando... Cortou curto os cabelos, meteu uns blue-jeans e saiu por aí. Mais romântica, menos intimista, gritou umas verdades no teatro. As verdades ficaram no teatro e Nara foi para a televisão. Levava a sua verdade e a música brasileira para o grande público.

Seus LPs documentam perfeitamente estes cinco útimos anos da nossa música. Com sua aguda e frágil, a pequenina Nara carregou nas costas um barquinho, um violão, um carcará, uma rosa, um trem, uma tuba e um circo inteiro. É natural que conheça, enfim, o peso das coisas que diz. Nara não se ilude: por mais fé que ponha em sue canto, não espera remover monatanhas. Isso lhe dá às vezes aquele ar de desencanto, quase beirando a displicência. É quando nasce um samba, um novo alento, uma esperança... E, para tanto, ela é uma menina. Saia curta, perna grossa e tudo.

Aquio está ela de volta. Porque é consciente na escolha do seu repertório; porque é corajosa na hora das verdades, porque é imagem de mulher independente... Atribua seu sucesso ao que bem entender, porém uma coisa é certa: Nara canta brasileiro, canta o que é bem nosso. Bara não tempretensões a uma música universal – “esperanto hipotético que não existe” – no dizer de Mário de Andrade. Nara canta sem sotaques. Canta apenas o dia a dia, o sol a sol – o que já é muito, aqui pra nós.

Chico Buarque de Hollanda