álbum

Nara (1964)

Vento de Maio

1967

músicas / letras (clique nas músicas para ver as letras)

  1. Quem te viu, quem te vê (Chico Buarque)

    Você era a mais bonita das cabrochas dessa ala
    Você era a favorita onde eu era mestre-sala
    Hoje a gente nem se fala mas a festa continua
    Suas noites são de gala, nosso samba ainda é na rua

    Hoje o samba saiu, lá lalaiá, procurando você
    Quem te viu, quem te vê
    Quem não a conhece não pode mais ver pra crer
    Quem jamais esquece não pode reconhecer

    Quando o samba começava você era a mais brilhante
    E se a gente se cansava você só seguia a diante
    Hoje a gente anda distante do calor do seu gingado
    Você só dá chá dançante onde eu não sou convidado

    O meu samba assim marcava na cadência os seus passos
    O meu sonho se embalava no carinho dos seus braços
    Hoje de teimoso eu passo bem em frente ao seu portão
    Pra lembrar que sobra espaço no barraco e no cordão

    Todo ano eu lhe fazia uma cabrocha de alta classe
    De dourado eu lhe vestia pra que o povo admirasse
    Eu não sei bem com certeza porque foi que um belo dia
    Quem brincava de princesa acostumou na fantasia

    Hoje eu vou sambar na pista, você vai de galeria
    Quero que você me assista na mais fina companhia
    Se você sentir saudade por favor não dê na vista
    Bate palma com vontade, faz de conta que é turista

  2. Com açucar, com afeto (Chico Buarque)

    Com açúcar, com afeto, fiz seu doce predileto
    Pra você parar em casa, qual o quê
    Com seu terno mais bonito, você sai, não acredito
    Quando diz que não se atrasa
    Você diz que é um operário, sai em busca do salário
    Pra poder me sustentar, qual o quê
    No caminho da oficina, há um bar em cada esquina
    Pra você comemorar, sei lá o quê
    Sei que alguém vai sentar junto, você vai puxar assunto
    Discutindo futebol
    E ficar olhando as saias de quem vive pelas praias
    Coloridas pelo sol
    Vem a noite e mais um copo, sei que alegre ma non troppo
    Você vai querer cantar
    Na caixinha um novo amigo vai bater um samba antigo
    Pra você rememorar
    Quando a noite enfim lhe cansa, você vem feito criança
    Pra chorar o meu perdão, qual o quê
    Diz pra eu não ficar sentida, diz que vai mudar de vida
    Pra agradar meu coração
    E ao lhe ver assim cansado, maltrapilho e maltratado
    Ainda quis me aborrecer, qual o quê
    Logo vou esquentar seu prato, dou um beijo em seu retrato
    E abro os meus braços pra você

  3. Noite dos mascarados (Chico Buarque)

    Quem é você
    Adivinha se gosta de mim
    Hoje os dois mascarados procuram
    Os seus namorados perguntando assim:

    Quem é você?
    Diga logo que eu quero saber o seu jogo
    Que eu quero morrer no seu bloco
    Que eu quero me arder no seu fogo

    Eu sou seresteiro, poeta e cantor
    O meu tempo inteiro só zombo do amor
    Eu tenho um pandeiro
    Só quero um violão
    Eu nado em dinheiro
    Não tenho um tostão
    Fui porta-estandarte, não sei mais dançar
    Eu, modéstia à parte, nasci prá sambar
    Eu sou tão menina
    Meu tempo passou
    Eu sou colombina
    Eu sou pierrô

    Mas é carnaval
    Não me diga mais quem é você
    Amanhã tudo volta ao normal
    Deixa a festa acabar
    Deixa o barco correr
    Deixa o dia raiar que hoje eu sou
    Da maneira que você me quer
    O que você pedir eu lhe dou
    Seja você quem for
    Seja o que Deus quiser
    Seja você quem for
    Seja o que Deus quiser

  4. Vento de maio (Gilberto Gil / Torquato Neto)

    Oi! você que vem de longe
    Caminhando a tanto tempo
    Que vem de vida cançada
    Carregada pelo vento
    Oi! você que vem chegando
    Vá entrando e tome assento

    Oi! você que vem chegando
    Vá entrando e tome assento

    Desapei dessa tristeza
    Que lhe dou de garantia
    A certeza mais segura
    Que mais dia menos dia
    No peito de todo mundo vai bater a alegria

    No peito de todo mundo vai bater a alegria

    Rô rô rô rô rô
    Rô rô rô rô rô

    Oh! meu irmão fique certo
    Não demora e vai chegar
    Aquele vento mais brando
    Aquele belo luar
    Que por dentro desta noite te ajudaram a voltar

    Que por dentro desta noite te ajudaram a voltar

    Monta e seu cavalo baio
    Que o vento já vai soprar
    Vai romper o mês de maio
    Não é hora de parar
    Galopando na firmeza
    Mais depressa vai chegar

    Mais depressa vai chegar

    Rô rô rô rô rô
    Rô rô rô rô rô

  5. Maria Joana (Sidney Miller)

    Não faz feitiço quem não tem um terreiro
    Nem batucada quem não tem um pandeiro
    Não vive bem quem nunca teve dinheiro
    Nem tem casa pra morar
    Não cai na roda quem tem perna bamba
    Não é de nada quem não é de samba
    Não tem valor quem vive de muamba
    Pra não ter que trabalhar
    Eu vou procurar um jeito de não padecer
    Porque eu não vou deixar a vida sem viver

    Mas acontece que a Maria Joana
    Acha que é pobre, mas nasceu pra bacana
    Mora comigo, mesmo assim não me engana
    Ela pensa em me deixar
    Já decidiu que vai vencer na vida
    Saiu de casa toda colorida
    Levou dinheiro pra comprar comida
    Mas não sei se vai voltar
    Eu vou perguntar
    Joana, o que aconteceu?
    Dinheiro não faz você mais rica do que eu

  6. A praça (Sidney Miller)

    Peço licença, peço em nome de quem passa
    Onde a rua fez-se em praça
    Tempo passa e vai-se embora
    Eu vou cantar um samba
    Pra quem chegar agora

    Fica de fora quem faz tempo foi criança
    E já não pode entrar na dança
    Nem sequer sabe dançar
    E ficou triste assim num banco do jardim
    Vendo o tempo passar

    Por outro lado tão contente, apaixonado
    Desfilava o namorado
    Sempre a transportar o céu dentro do peito
    Coração a voar

    Quem suspirava era menina que estudante
    Passeava a todo instante
    Sempre a espera de um amor
    Que enquanto ele não vinha
    Namorava sozinha

    E o vagabundo que pedia a todo
    Para lhe mostrar o seu lugar
    Não encontrando pela praça andou rodando
    E resolveu ficar para morar

    Seu afazer era fazer da meninada
    Nada mais que um só brinquedo para quem não tem
    Fazia nada porque medo lhes causava
    Quando junto se achegava pra brincar também

    No fim da tarde toda gente se juntava
    A tarde é cedo, a noite é quente
    Quem ficava era pra ver a lua aparecer
    E alguém cantar um samba

    Peço licença, peço em nome de quem passa
    Onde a rua fez-se em praça
    Tempo passa e vai-se embora
    Eu já cantei meu samba
    Quem vai cantar agora?

  7. O circo (Sidney Miller)

    Vai, vai, vai começar a brincadeira
    Tem charanga tocando a noite inteira
    Vem, vem, vem ver o circo de verdade
    Tem, tem, tem picadeiro de qualidade
    Corre, corre, minha gente que é preciso ser esperto
    Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto
    Mas no meio da folia, noite alta, céu aberto
    Sopra o vento que protesta, cai no teto, rompe a lona
    Pra que a lua de carona também possa ver a festa

    Bem me lembro o trapezista que mortal era seu salto
    Balançando lá no alto parecia de brinquedo
    Mas fazia tanto medo que o Zezinho do Trombone
    De renome consagrado esquecia o próprio nome
    E abraçava o microfone pra tocar o seu dobrado

    Faço versos pro palhaço que na vida já foi tudo
    Foi soldado, carpinteiro, seresteiro e vagabundo
    Sem juízo e sem juízo fez feliz a todo mundo
    Mas no fundo não sabia que em seu rosto coloria
    Todo encanto do sorriso que seu povo não sorria

    De chicote e cara feia domador fica mais forte
    Meia volta, volta e meia, meia vida, meia morte
    Terminando seu batente de repente a fera some
    Domador que era valente noutras feras se consome
    Seu amor indiferente, sua vida e sua fome

    Fala o fole da sanfona, fala a flauta pequenina
    Que o melhor vai vir agora que desponta a bailarina
    Que o seu corpo é de senhora, que seu rosto é de menina
    Quem chorava já não chora, quem cantava desafina
    Porque a dança só termina quando a noite for embora
    Vai, vai, vai terminar a brincadeira
    Que a charanga tocou a noite inteira
    Morre o circo, renasce na lembrança
    Foi-se embora e eu ainda era criança

  8. Morena do mar (Dorival Caymmi)

    Ô morena do mar, oi eu, ô morena do mar
    Ô morena do mar,sou eu que acabei de chegar
    Ô morena do mar
    Eu disse que ia voltar
    Ai,eu disse que ia chegar,
    Cheguei
    Ô morena do mar, oi eu, Ô morena do mar
    Ô morena do mar,sou eu que acabei de chegar
    Ô morena do mar
    Eu disse que ia voltar
    Ai,eu disse que ia chegar,
    Cheguei
    Para te agradar
    Ai,eu trouxe os peixinhos do mar
    Morena
    Para te enfeitar,
    Eu trouxe as conchinhas do mar
    As estrelas do céu
    Morena
    E as estrelas do mar
    Ai,as pratas e os ouros de Iemanjá
    Ai,as pratas e os ouros de Iemanjá

  9. Fui bem feliz (Sidney Miller e Jorginho)

    Já fui bem feliz
    Agora não sou
    Já fui bem feliz
    Agora não sou

    Ah, se eu pudesse voltar aos meus tempos de outrora
    Do meu apito no nosso desfile da escola
    Minhas pastoras vestidas com rendas e flores
    Venham buscar as cores mais belas da aurora

    Já fui bem feliz
    Agora não sou
    Já fui bem feliz
    Agora não sou

    Vejam vocês até meu amor foi-se embora
    Pra não viver ao lado do meu sofrimento
    Restou apenas do samba a saudade que chora
    E o violão agora é quem faz meu lamento

    Já fui bem feliz
    Agora não sou
    Já fui bem feliz
    Agora não sou

  10. Rancho das namoradas (Vinicius de Moraes e Ary Barroso)

    Já vem raiando a madrugada
    Acorda, que lindo
    Mesmo a tristeza está sorrindo
    Entre as flores da manhã se abrindo nas flores do céu
    O véu das nuvens que esvoaçam
    Que passam pela estrela a morrer
    Parecem nos dizer que não existe beleza maior do que o amanhecer
    E no entanto maior, bem maior do que o céu
    Bem maior do que o mar, maior que toda natureza
    É a beleza que tem a mulher namorada
    Seu corpo é assim como aurora ardente
    Sua alma é uma estrela inocente, seu corpo uma rosa fechada
    Em seus seios pudores renascem das dores
    De antigos amores que vieram mas não era
    Um amor que se espera, o amor primavera
    São tantos os encantos que para os comparar
    Nem mesmo a beleza que tem as auroras do mar

  11. Chorinho (Chico Buarque)

    Ai, o meu amor, a sua dor, a nossa vida
    Já não cabem na batida
    Do meu pobre cavaquinho
    Ai, Quem me dera
    Pelo menos um momento
    Juntar todo sofrimento
    Pra botar nesse chorinho
    Ai, quem me dera ter um choro de alto porte
    Pra cantar com a voz bem forte
    E anunciar a luz do dia
    Mas quem sou eu
    Pra cantar alto assim na praça
    Se vem dia, dia passa
    E a praça fica mais vazia

    Vem, morena,
    Não me despreza mais, não
    Meu choro é coisa pequena
    Mas roubado a duras penas
    Do coração
    Meu chorinho
    Não é uma solução
    Enquanto eu cantar sozinho
    Quem cruzar o meu caminho,
    não pára não

    Mas eu insisto
    E quem quiser que me compreenda
    Até que alguma luz acenda, este meu canto continua
    Junto meu canto a cada pranto, a cada choro,
    Até que alguém me faça coro pra cantar na rua

  12. Passa, passa, gavião (Sidney Miller)

    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom
    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom

    Passa o tempo na janela
    Vejo tudo que se passa
    Passa o dia, passa a hora
    Passa a pressa de ir embora
    Passa o pranto de quem chora
    Passa o verso de quem canta
    Passa a dor e a dor é tanta
    Que eu nem sei por onde mora

    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom
    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom

    Minha tristeza faz assim
    Sei que a tristeza vai ter fim
    Minha certeza quer assim
    Meu coração diga que sim

    Com sinceridade
    Me responda agora
    Se a felicidade
    Passará por mim

    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom
    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom

    Peça a Deus, minha senhora
    Que passou por mim agora
    Que esse sol que hora levanta
    Nunca mais se vá embora
    Pra que que eu possa estar contente
    Pra passar por toda gente
    Pra cantar com a minha gente
    Pela vida a fora

    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom
    Passa, passa, gavião
    Todo mundo é bom

ficha técnica

Gravadora: Philips

Arranjados e regências: Maestro Gaya e Dori Caymmi

Capa: Augusto Rodrigues