
Nara Pede Passagem
1966
(clique nas músicas para ver as letras)
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Pede passagem (Sidney Miller)
Chegou a hora da escola de samba sair
Deixa morrendo no asfalto uma dor
Que não quis
Quem não soube o que é ter alegria na vida
Tem toda a avenida
Pra ser muito feliz
Vai arrastar a felicidade pela rua
Esquece a quarta-feira e continua
Vivendo e chegando
Traz unido o povo cantando com vontade
Levando em teu estandarte uma verdade
Seu coração
Vai, balança a bandeira colorida
Pede passagem pra viver a vida
Vai arrastar a felicidade pela rua
Esquece a quarta-feira e continua
Vivendo e chegando
Traz unido o povo cantando com vontade
Levando em teu estandarte uma verdade
Seu coração
Vai, balança a bandeira colorida
Pede passagem pra viver a vida -
Olê, olá (Chico Buarque)
Não chore ainda não, que eu tenho um violão
E nós vamos cantar
Felicidade aqui pode passar e ouvir
E se ela for de samba há de querer ficar
Seu padre toca o sino que é pra todo mundo saber
Que a noite é criança, que o samba é menino
Que a dor é tão velha que pode morrer
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, quem sabe sambar
Que entre na roda, que mostre o gingado
Mas muito cuidado, não vale chorar
Não chore ainda não, que eu tenho uma razão
Pra você não chorar
Amiga, me perdoa, se eu insisto à toa
Mas a vida é boa para quem cantar
Meu pinho, toca forte que é pra todo mundo acordar
Não fale da vida, nem fale da morte
Tem dó da menina, não deixa chorar
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, quem sabe sambar
Que entre na roda, que mostre o gingado
Mas muito cuidado, não vale chorar
Não chore ainda não, que eu tenho a impressão
Que o samba vem aí
É um samba tão imenso que eu às vezes penso
Que o próprio tempo vai parar pra ouvir
Luar, espere um pouco, que é pra o meu samba poder chegar
Eu sei que o violão está fraco, está rouco
Mas a minha voz não cansou de chamar
Olê, olê, olê, olá
Tem samba de sobra, ninguém quer sambar
Não há mais quem cante, nem há mais lugar
O sol chegou antes do samba chegar
Quem passa nem liga, já vai trabalhar
E você, minha amiga, já pode chorar -
Amei tanto (Baden Powell / Vinícius de Moraes)
Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar
Vivi te buscando
Vivi te encontrando
Vivi te perdendo
Ah, coração, infeliz até quando?
Para ser feliz
Tu vais morrer de dor
Amei tanto
Que agora nem sei mais chorar
Nunca fui covarde
Mas agora é tarde
É tarde demais enfim
A solidão é o fim de quem ama
A chama se esvai, a noite cai em mim -
Palmares (Noel Rosa de Oliveira / Anescar Pereira Filho / Walter Moreira)
No tempo em que o Brasil ainda era
Um simples país colonial,
Pernambuco foi palco da história
Que apresentamos neste carnaval.
Com a invasão dos holandeses
Os escravos fugiram da opressão
E do julgo dos portugueses.
Esses revoltosos
Ansiosos pela liberdade
Nos arraiais dos Palmares
Buscavam a tranqüilidade.
Ô-ô-ô-ô-ô-ô
Ô-ô, ô-ô, ô-ô.
Surgiu nessa história um protetor.
Zumbi, o divino imperador,
Resistiu com seus guerreiros em sua tróia,
Muitos anos, ao furor dos opressores,
Ao qual os negros refugiados
Rendiam respeito e louvor.
Quarenta e oito anos depois
De luta e glória,
Terminou o conflito dos Palmares,
E lá no alto da serra,
Contemplando a sua terra,
Viu em chamas a sua tróia,
E num lance impressionante
Zumbi no seu orgulho se precipitou
Lá do alto da Serra do Gigante.
Meu maracatu
É da coroa imperial.
É de Pernambuco,
Ele é da casa real. -
Recado (Paulinho da Viola / Casquinha)
Leva o recado
A quem me deu tanto dissabor
Diz que eu vivo bem melhor assim
E que no passado fui
Um sofredor
E agora já não sou
O que passou, passou
Vá dizer a minha ex-amada
Que é feliz meu coração
Mas que nas minhas madrugadas
Eu não me esqueço dela não -
Amo tanto (Jards Macalé)
Meu amor
Eu vim de longe
Pra dizer-te o meu amor
Tempo
tanto eu te perdi
Vim dizer-te
O que sofri
Fiz-me dia
Fiz-me noite
Fiz-me só pensando em ti
Fiz da minha vida
Uma eterna solidão
Meu amor
Vim te dizer
Que sem ti não sei viver
Vem comigo
Que sem teu amor
Melhor
Morrer -
Pedro pedreiro (Chico Buarque)
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro fica assim pensando
Assim pensando o tempo passa e a gente vai ficando prá trás
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol esperando o trem, esperando aumento desde o ano passado para o mês que vem
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro espera o carnaval
E a sorte grande do bilhete pela federal todo mês
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando a festa, esperando a sorte
E a mulher de Pedro, esperando um filho prá esperar também
Pedro pedreiro penseiro esperando o trem
Manhã parece, carece de esperar também
Para o bem de quem tem bem de quem não tem vintém
Pedro pedreiro tá esperando a morte
Ou esperando o dia de voltar pro Norte
Pedro não sabe mas talvez no fundo espere alguma coisa mais linda que o mundo
Maior do que o mar, mas prá que sonhar se dá o desespero de esperar demais
Pedro pedreiro quer voltar atrás, quer ser pedreiro pobre e nada mais, sem ficar
Esperando, esperando, esperando, esperando o sol
Esperando o trem, esperando aumento para o mês que vem
Esperando um filho prá esperar também
Esperando a festa, esperando a sorte, esperando a morte, esperando o Norte
Esperando o dia de esperar ninguém, esperando enfim, nada mais além
Da esperança aflita, bendita, infinita do apito de um trem
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando
Pedro pedreiro pedreiro esperando o trem
Que já vem...
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem
Que já vem -
Quatro crioulos (Elton Medeiro / Joacyr Santanna)
São quatro crioulos
Inteligentes
Rapazes muito decentes
Fazendo inveja a muita gente
Muito bem empregados numa secretaria
Educados e diplomados em filosofia
E quando chega fevereiro
Ver os crioulos no terreiro
É sensacional
No dia de carnaval
São figuras de destaque
No desfile principal
Esses quatro crioulos
São orgulho da gente de cor
Só quem os conhece
Poderá dar um justo valor
Trabalham, estudam,
Tem o samba por divertimento
Para eles a moral é o maior documento -
Pranto de poeta (Guilherme de Brito / Nelson Cavaquinho)
Em Mangueira
Quando morre um poeta
Todos choram
Vivo tranquilo em Mangueira porque
Sei que alguém há de chorar quando eu morrer
Mas o pranto em Mangueira é tão diferente
É um pranto sem lenço
Que alegra a gente
Hei de Ter um alguém
Pra chorar por mim
Através de um pandeiro e de um tamborim -
Madalena foi pro mar (Chico Buarque)
Madalena foi pro mar
E eu fiquei a ver navios
Quem com ela se encontrar
Diga lá no alto mar
Que é preciso voltar já
Pra cuidar dos nossos filhos
Pra zombar dos olhos meus
No alto mar a vela acena
Tanto jeito tem de adeus
Tanto adeus de Madalena
É preciso não chorar
Maldizer, não vale a pena
Jesus manda perdoar
A mulher que é Madalena
Madalena foi pro mar
E eu fiquei a ver navios -
Pecadora (Jair do Cavaquinho / Joãozinho da Pecadora)
Vai
Pecadora arrependida
Vai tratar da tua vida
Por favor me deixe em paz
Me deste um grande desgosto
Eu não quero ver teu rosto
Palavra de rei não volta atrás
Eu quero um amor perfeito
Para aliviar meu peito
Que por ti
Já padeceu demais
Agora tens o mundo aos teus pés
A caminhar
Cansei-me de sofrer
Cansaste de errar
Eu plantei flor
Colhei espinhos
Mas agora arranjei outra
Para me fazer carinho -
Deus me perdoe (Humberto Teixeira / Lauro Maia)
Deus me perdoe
Mas levar esta vida que eu levo
é melhor morrer
Relembrando a fingida mulher
Que me abandonou
Mais aumenta a saudade
Que tanto me faz sofrer
Se ela quisesse voltar
Eu perdoava
Se ela voltasse
Na certa, recordava
O bom tempo feliz que ficou
Ficou pra trás
Tenho sofrido bastante
Não posso mais
Ai, meu Deus
Gravadora: Philips
Regência: Maestro Gaya
Engenheiro de Som: Armando Dulcetti
Técnico de gravação: Cálio Martins
Layout: Rodrigo Octavio
Foto Ektachrome: Corrado Ubezio
Fotos em preto e branco: Orlando Abrunhosa e Paulo Iorgus