
Manhã de Liberdade
1966
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A Banda (Chico Buarque)
Estava à toa na vida, o meu amor me chamou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
A minha gente sofrida despediu-se da dor
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
O homem sério que contava dinheiro parou
O faroleiro que contava vantagem parou
A namorada que contava as estrelas parou
Para ver, ouvir e dar passagem
A moça triste que vivia calada sorriu
A rosa triste que vivia fechada se abriu
E a meninada toda se assanhou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Estribilho
O velho fraco se esqueceu do cansaço e pensou
Que ainda era moço pra sair no terraço e dançou
A moça feia debruçou na janela
Pensando que a banda tocava pra ela
A marcha alegre se espalhou na avenida e insistiu
A lua cheia que vivia escondida surgiu
Minha cidade toda se enfeitou
Pra ver a banda passar cantando coisas de amor
Mas para meu desencanto o que era doce acabou
Tudo tomou seu lugar depois que a banda passou
E cada qual no seu canto, em cada canto uma dor
Depois da banda passar cantando coisas de amor -
Ana vai embora (Franklin Dario)
Ana vai embora
Leva a mala cheia de sentar sentando em cima
E a noite escorrega nos seus olhos de menina
Ana quer chorar
Ana vai embora
Pro sul
A lua se esconde
Dentro de um coqueiro e triste
Noite que é pé teimoso
Quebra as ruas do recife
Que ana vai deixar
Ana vai embora
Pro sul
Moreninha dos olhos de cobertor
Has de ser consolo de um pedreiro de valor
Norte te deu fome
Comida do sul te chamou
Norte dá saudade
Depois que já se almoçou.
Ana vai embora
Pro sul
A mãe Benedita deu-lhe beijos e um aviso
Filha escolha bem seu homem mas não perca seu juízo
Antes de casar
Ana vai embora
Pro sul -
Funeral de um lavrador (João Cabral de Melo Neto / Chico Buarque)
Esta cova em que estás com palmos medida
É a conta menor que tiraste em vida
É de bom tamanho nem largo nem fundo
É a parte que te cabe deste latifúndio
Não é cova grande, é cova medida
É a terra que querias ver dividida
É uma cova grande pra teu pouco defunto
Mas estarás mais ancho que estavas no mundo
É uma cova grande pra teu defunto parco
Porém mais que no mundo te sentirás largo
É uma cova grande pra tua carne pouca
Mas a terra dada, não se abre a boca
Mas a terra dada, não se abre a boca. -
Dois e dois: quatro (Luiz Guedes / Ferreira Gullar / Thomas Roth)
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Sei que dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Como dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Embora o pão seja caro
E a liberdade pequena
Como teus olhos são claros
E a tua pele morena
Como é azul o oceano
E a lagoa serena
Como um tempo de alegria
Por trás do terror me acena
E a noite carrega o dia
No seu colo de açucena
Sei que dois e dois são quatro
Sei que a vida vale a pena
Mesmo que o pão seja caro
E a liberdade pequena -
Morena dos olhos d’agua (Chico Buarque)
Morena, dos olhos d'água
Tira os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar
Descansa em meu pobre peito
Que jamais enfrenta o mar
Mas que tenha braço estreito morena
Com jeito de lhe agradar
Vem ouvir lindas histórias
Que por seu amor sonhei
Vem saber quantas vitórias morena
Por mares que só eu sei
Morena, dos olhos d'água
Tira os seus olhos do mar
Vem ver que a vida ainda vale
O sorriso que eu tenho
Pra lhe dar
O seu homem foi-se embora
Prometendo voltar já
Mas as ondas não tem hora morena
De partir ou de voltar
Passa a vela e vai-se embora
Passa o tempo e vai também
Mas meu canto ainda lhe implora morena
Agora morena, vem -
Favela (Padeirinho / Jorginho)
Numa vasta extensão
Onde não há plantação
Nem niguém morando lá
Cada um pobre que passa por ali
Só pensa em construir seu lar
E quando o primeiro começa
Os outros depressa procuram marcar
Seu pedacinho de terra pra morar
E assim que a região
Sofre modificação
Fica sendo chama de “a nova aquarela”
É aí que o lugar
Então passa a se chamar
Favela -
Manhã de liberdade (Nelson Lins de Barro / Marcon Antonio)
Vê como a noite desceu
Como tudo morreu
Sem ter pena da gente
Vê quanto olhar se fechou
Quanta voz se apagou
Sem dizer o que sente
Não vê quanta flor
quanta luz vai nascendo
Há tanto amor que dar
Tanto pra ganhar
Tanto o que fazer
Sei, ninguém deve chorar
Ninguém deve sonhar
Tanta coisa perdida
Sei que esta vida se faz
Só agente é capaz
De mudar nossa vida
Não sei quanto tempo é preciso esperar
Paz, igualdade, amor, liberdade, vida
Que vai nascer
E o mundo inteiro cantando, cantando
Liberdade há nascer manhã -
Menina de Hiroshima (Luis Carlos Sá / Francisco de Assis)
Quem quer ouvir a história
Da menina de Hiroshima?
Quem quer ouvir a história
Da menina maravilha?
A menina que ficou
Com os olhos cor sem cor
Com olhar sem olhar
Com falar sem falar
Com amor sem amor
No seu corpo de menina
Mapas de um lugar qualquer
A menina de Hiroshima
Não pode mais ser mulher
A menina que ficou
Com os olhos cor sem cor
Com olhar sem olhar
Com falar sem falar
Com amor sem amor
Mas a menina de Hiroshima
Está bela, está viva
Como rosa radiante
Como rosa radiotiva -
Ladainha (Gilberto Gil)
Festa de morto é ladainha
Medo de vivo é solidão
Luto por amor e morro
De facas no coração
Em campos sem travesseiro
Estou cercado de inimigo
Cada qual mais preparado
Intriguento e arruaceiro
Chove chuva e aguaceiro
Chove chuva e aguaceiro
Só sinto frio na alma
Estou vazio de sentimento
Não sinto água no corpo
Nem amor, nem ferimento
Chove chuva e aguaceiro
Chove chuva e aguaceiro
O vivo morreu cercado
De muita luta e alegria
Seu sorriso agora é nuvem
Sua festa, ladainha
Seu amor, cama vazia
Numa varanda do céu
Seu amor, cama vazia
Numa varanda do céu -
Canção do bicho (Jenny Marcondes / Denoy Oliveira / Ferreira Gullar)
Se corres bicho te pega amor
Se ficas ele te come
Ai que bicho será esse amor
Quem tem braço e pé de homem?
Com a mão direita ele rouba
E com a esquerda ele entrega
Janeiro te dá trabalho amor
Dezembro te desemprega
De dia ele grita avante amor
De noite ele diz não vá
Será esse bicho um homem amor
Ou muitos homens será? -
Canção da Primavera (Carlos Elias))
Me acordo e abro a janela
Sorrio e me sinto feliz
A primavera chegou
Trazendo quem eu sempre quis
Há nos jardins tantas flores
Na paisagem mais cores
Paira no ar um aroma de felcidade
Até no canto das aves
Sinto que há mais poesia
Parece que elas entendem
Toda esta minha alegria
As flores começam a surgir
Com a nova estação que chegou
E meu coração já sorri
Porque você voltou -
Faz escuro mas eu canto (Monsueto Menezes / Thiago de Melo)
Faz escuro mais eu canto
Porque amanhã vai chegar
Vem ver comigo companheiro
Vai ser lindo
A cor do mundo, o lugar
Vale a pena não dormir para esperar
Porque amanhã vai chegar
Já é madrugada vem o sol
Quero alegria
Que é para esquecer o que eu sofria
Quem sofre fica acordado
Defendendo o coração
Vem comigo multidão
Trabalhar pela alegria
Que amanhã é outro dia
Gravadora: Philips
Arranjos e direção musical: Jenny Marcondes