
O Canto Livre de Nara
1965
(clique nas músicas para ver as letras)
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Corisco (Glauber Rocha e Sérgio Ricardo)
Te entrega Corisco (2x)
Eu não me entrego não
Eu não sou passarinho pra viver lá na prisão
Não me entrego a tenente
Nem a capitão
Só me entrego na morte
De parabelo na mão
Na conta da minha história
Verdade e imaginação
Espero que o senhor tenha tirado uma lição
Que assim mal dividido esse mundo anda errado
Que a terra é do homem,
Não é de deus nem do diabo.
O Sertão vai virar mar
E o mar vai virar sertão -
Samba da legalidade (Zé Keti e Carlos Lyra)
Dentro da legalidade
Dentro da honestidade
Ninguém tira meu direito
Quando querem anarquia
Elimino a teimosia
Mostrando todo o defeito
Se o samba está errado
Não posso ficar calado
Consertando a melodia
Se a letra o tratamento
Não estiver no português
Com toda diplomacia
Peço desculpas ao fregues
Conserto tudo outra vez
Eu não sou politiqueiro
Meu negócio é um pandeiro
Dentro da legalidade
Sou poeta popular
Dentro da honestidade
Ninguém pode me calar -
Não me diga adeus (Paquito - L. Soberano - J. C. Silva)
Não, não me diga adeus
Pense nos sofrimentos meus
Se alguém lhe der conselho
Pra você me abandonar
Não devemos nos separar
Não vá me deixar
Por favor
Que a saudade é cruel
Quando existe amor
Não me diga adeus
Pense nos sofrimentos meus -
Uricuri (José Cândido - João do Vale)
Ouricuri madurou
É sinal que arapuá já fez mel
Catingueira fulorou
Lá no sertão
Vai cair chuva a granel.
Arapuá esperando
Ouricuri madrucer
Caatingueira fulorando
Sertanejo esperando chover.
Lá no sertão
Quase ninguém tem estudo
Um ou outro que lá aprendeu ler
Mas tem homem capaz de fazer tudo doutor
Que antecipa o que vai acontecer.
Caatingueira fulora vai chover
Andorinha voou vai ter verão
Gavião se cantar é estiada
Vai haver boa safra no sertão.
Se o galo cantar fora de hora
É mulher dando o fora pode crer
Acauã se cantar perto de casa
É agouro é alguém que vai morrer.
São segredos que o sertanejo sabe
E não teve o prazer de aprender ler -
Canto livre (Bené Nunes - Dulce Nunes)
Enquanto espero eu canto
Se desespero eu canto
Enquanto vou eu canto
Na eterna volta eu canto
E me encanto de cantar
Se quando perdida eu canto
Canto, canto la la ra la ra la ra
Se não tem sentido o meu cantar
Qual o sentido de não cantar?
Se na manhã primeira eu não cantei
Na derradeira eu cantarei
Todas as buscas têm o seu cantar
Todos os cantos são de encontrar
Canto, canto la ra la ra la la ra -
Suíte dos pescadores (Dorival Caymmi)
Minha jangada vai sair prao mar
Vou trabalhar, meu bem querer
Se Deus quiser quando eu voltar do mar
Um peixe bom eu vou trazer
Meus companheiros também vão voltar
E a Deus do céu vamos agradecer
Adeus, adeus
Pescador não se esqueça de mim
Vou rezar pra ter bom tempo, meu bem
Pra não ter tempo ruim
Vou fazer sua caminha macia
Perfumada com alecrim
Pedro!
Chico!
Lino!
Zeca!
Cadê vocês?
Oh Mãe de Deus...
Eu bem que disse a José:
Não vá, José. Não vá, José.
Meu Deus!
Com tempo desses não se sai
Quem vai pro mar, quem vai pro mar
Não vem
É tão triste ver partir alguém que a gente quer
Com tanto amor, e suportar a agonia de esperar voltar
Viver olhando o céu e o mar, a incerteza, a torturar
A gente fica só, tão só.
A gente fica só tão só
É triste superar.
Uma incelença entrou no paraíso
Adeus, irmão, adeus, até o dia de Juízo. -
Carcará (José Cândido - João do Vale)
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Mas quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no umbigo inté matá -
Malvadeza Durão (Zé Keti)
Mais um malandro fechou o paletó
Eu tive dó, eu tive dó
Quatro velas acesas em cima de uma mesa
E uma subscrição para ser enterrado
Morreu Malvadeza Durão
Valente, mas muito considerado
Céu estrelado, lua prateada
Muitos sambas, grandes batucadas
O morro estava em festa quando alguém caiu
Com a mão no coração, sorriu
Morreu Malvadeza Durão
E o criminoso ninguém viu. -
Aleluia (Ruy Guerra - Edu Lobo)
Barco deitado na areia, não dá pra viver
Não dá...
Lua bonita sozinha não faz o amor
Não faz...
Toma a decisão, aleluia
Que um dia o céu vai mudar
Quem viveu a vida da gente
Tem de se arriscar
Amanhã é teu dia
Amanhã é teu mar, teu mar
E se o vento da terra que traz teu amor, já vem
Toma a decisão, aleluia
Lança o teu saveiro no mar
Bê-a-bá de pesca é coragem
Ganha o teu lugar
Mesmo com a morte esperando
Eu me largo pro mar, eu vou
Tudo o que eu sei é viver
E vivendo é que eu vou morrer
Toma a decisão, tá na hora
Que um dia o céu vai mudar
Quem não tem mais nada a perder
Só vai poder ganhar -
Nega Dina (Zé Keti)
A Dina subiu o morro do Pinto
Pra me procurar
Não me encontrando, foi ao morro da Favela
Com a filha da Estela
Pra me perturbar
Mas eu estava lá no morro de São Carlos
Quando ela chegou
Fazendo um escândalo, fazendo quizumba
Dizendo que levou
Meu nome pra macumba
Só porque faz uma semana
Que não deixo uma grana
Pra nossa despesa
Ela pensa que minha vida é uma beleza
Eu dou duro no baralho
Pra poder viver
A minha vida não é mole, não
Entro em cana toda hora sem apelação
Eu já ando assustado e sem paradeiro
Sou um marginal brasileiro -
Minha namorada (Carlos Lyra - Vinicius de Moraes)
Se você quer ser minha namorada
Ai que linda namorada
Você poderia ser
Se quiser ser somente minha
Exatamente essa coisinha
Essa coisa toda minha
Que ninguém mais pode ser
Você tem de me fazer
Um juramento
De só ter um pensamento
Ser só minha até morrer
E também de não perder esse jeitinho
De falar devagarinho
Essas histórias de você
E de repente me fazer muito carinho
E chorar bem de mansinho
Sem ninguém saber porque
Mas se ao invés deminha namorada
Você quer ser minha amada
Minha amada, mas amada pra valer
Aquela amada pelo amor predestinada
Sem a qual a vida é nada
Sem a qual melhor morrer
Você tem que vir comigo
Em meu caminho
E talvez o meu caminho
Seja triste pra você
Os teus olhos tem que ser só dos meus olhos
E os seus braços o meu ninho
No silêncio de nós dois
E você tem de ser a estrela derradeira
Minha amiga e companheira
No infinito de nós dois -
Incelença (Folclore)
Uma excelência da virgem,
Oh , mãe de deus, rogai por ele, mãe de deus (BIS)
Mãe de deus, mãe de deus.
Oh, mãe de deus, rogai por ele, mãe de deus.
Mãe de deus, mãe de deus.
Oh, mãe de deus, rogai a deus por ele..
Diz um a, Ave Maria
Diz um b, brandosa e bela
Diz um c, cofrim da graça
E um d, divina estrela
Esperança nossa
Fonte do amor
Gênio do bem
Honesta flor
Diz um e, esperança nossa
Diz um fê, fonte de amor
Diz um Ge, gênio do bem
E um h, honesta flor
Mãe dos mortais
Nuvem de brilho
Orai por nós
Por vossos filhos
Diz um m, mãe dos mortais
Diz um n, nuvem de brilho
Diz um o, orai por nós
E um, por vossos filhos
Única saída
Vital fecundo
Xis dos mistérios
Zelai o mundo
Diz um u, única saída
Diz um v, vital fecundo
Diz um x, xis dos mistérios
E um z, zelai o mundo
Gravadora: Philips
Técnico de gravação: Célio Martins
Engenheiro de som: Sylvio Rabello
Direção de estúdio: Armando Pittigliani
Direção musical: Luiz Eça
Coordenador: Dori Caymmi
Arte e fotografia (capa): Jânio de Freitas
Piano: Luiz Eça
Violão: Dori Caymmi
Baixo: Bebeto
Bateria: Ruben Ohana de Miranda
Flauta: Bebeto
Cordas: Peter e seu naipe de cordas