
5 na Bossa
1965
(clique nas músicas para ver as letras)
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Carcará (João do Vale / José Candido)
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Carcará
Lá no sertão
É um bicho que avoa que nem avião
É um pássaro malvado
Tem o bico volteado que nem gavião
Carcará
Quando vê roça queimada
Sai voando, cantando,
Carcará
Vai fazer sua caçada
Carcará come inté cobra queimada
Mas quando chega o tempo da invernada
No sertão não tem mais roça queimada
Carcará mesmo assim num passa fome
Os burrego que nasce na baixada
Carcará
Pega, mata e come
Carcará
Num vai morrer de fome
Carcará
Mais coragem do que home
Carcará
Pega, mata e come
Carcará é malvado, é valentão
É a águia de lá do meu sertão
Os burrego novinho num pode andá
Ele puxa no umbigo inté matá -
Reza (Edu Lobo / Ruy Guerra)
Por amor andei, já
Tanto chão e mar
Senhor, já nem sei
Se o amor não é mais
Bastante pra vencer
Eu já sei o que vou fazer
Meu Senhor, uma oração
Vou cantar para ver se vai valer
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Ó meu santo defensor
Traga o meu amor
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Se é fraca a ora...ção
Mil vezes canta...rei
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria
Laia, ladaia, sabatana, Ave Maria -
O trem atrasou (Arthur Villarinho / Estanislau Silva / Paquito)
Patrão, o trem atrasou
Por isso estou chegando agora
Trago aqui um memorando da Central
O trem atrasou, meia hora
O senhor não tem razão
Pra me mandar embora !
O senhor tem paciência
É preciso compreender
Sempre fui obediente
Reconheço o meu dever
Um atraso é muito justo
Quando há explicação
Sou um chefe de família
Preciso ganhar meu pão
E eu tenho razão. -
Zambi (Edu Lobo / Vinícius de Moraes)
É Zambi no açoite, ei, ei é Zambi
É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi
É Zambi na noite, ei, ei, é Zambi
É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi
Chega de sofrer
Eh! Zambi gritou
Sangue a correr
É a mesma cor
É o mesmo adeus
E a mesma dor
É Zambi se armando, ei, ei é Zambi
É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi
É Zambi lutando, ei, ei, é Zambi
É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi
Chega de viver
Na escravidão
É o mesmo céu
O mesmo chão
O mesmo amor
Mesma paixãoGanga-Zumba ei, ei, vai fugir
Vai lutar tui, tui, tui, tui, com Zambi
E Zambi gritou ei, ei, meu irmão
Mesmo céu, tui, tui, tui, tui, mesmo chão
Vem filho meu, meu capitão
Ganga-Zumba liberdade, liberdade
Ganga-Zumba vem meu irmão
É Zambi lutando, é lutador
Faca cortando, talho sem dor
É o mesmo sangue
E a mesma cor
É Zambi morrendo, ei, ei é Zambi
É Zambi, tui, tui, tui, tui, é Zambi
Ganga-Zumba, ei, ei, vem aí -
Consolação (Baden Powell / Vinícius de Moraes)
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Aleluia (Edu Lobo e Ruy Guerra)
Barco deitado na areia, não dá pra viver
Não dá...
Lua bonita sozinha não faz o amor
Não faz...
Toma a decisão, aleluia
Que um dia o céu vai mudar
Quem viveu a vida da gente
Tem de se arriscar
Amanhã é teu dia
Amanhã é teu mar, teu mar
E se o vento da terra que traz teu amor, já vem
Toma a decisão, aleluia
Lança o teu saveiro no mar
Bê-a-bá de pesca é coragem
Ganha o teu lugar
Mesmo com a morte esperando
Eu me largo pro mar, eu vou
Tudo o que eu sei é viver
E vivendo é que eu vou morrer
Toma a decisão, aleluia
Lança o teu saveiro no mar
Quem não tem mais nada a perder
Só vai poder ganhar -
Cicatriz (Zé Ketti / Hermínio Bello de Carvalho)
Pobre não é um
pobre é mais de dois,
muito mais de três.
E vai por ai e vejam só:
Deus dando a paisagem
metade do céu já é meu
Pobre nunca teve gosto;
a tristeza é a sua cicatriz.
Reparem bem que só de vez em quando
pobre é feliz
Ai, quanto desgosto!
Assim a vida vale a pena? Não.
Mas é explicar a situação
dizer pra ele que...
pobre não é um
pobre é mais de cem,
muito mais de mil,
mais de um milhão ? E vejam só:
Deus dando a paisagem
o resto é só ter coragem. -
Estatuinha (Edu Lobo / G. Guarnieri)
Se a mão livre do negro tocar na argila
O que é que vai nascer?
Vai nascer pote pra gente beber
Nasce panela pra gente comer
Nasce vasilha, nasce parede
Nasce estatuinha bonita de se ver
Se a mão livre do negro tocar na onça
O que é que vai nascer?
Vai nascer pele pra cobrir nossas vergonhas
Nasce tapete pra cobrir o nosso chão
Nasce caminha pra se ter nossa ialê
E atabaque pra se ter onde bater
Se a mão livre do negro tocar na palmeira
O que é que vai nascer?
Nasce choupana pra gente morar
E nasce rede pra gente se embalar
Nasce as esteiras pra gente deitar
Nasce os abanos pra gente abanar -
Minha história (João do Vale / Raymundo Evangelista)
Seu moço, quer saber, eu vou cantar num baião
Minha história pra o senhor, seu moço, preste atenção
Eu vendia pirulito, arroz doce, mungunzá
Enquanto eu ia vender doce, meus colegas iam estudar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar
A minha mãe, tão pobrezinha, não podia me educar
E quando era de noitinha, a meninada ia brincar
Vixe, como eu tinha inveja, de ver o Zezinho contar:
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
- O professor raiou comigo, porque eu não quis estudar
Hoje todo são “doutô”, eu continuo joão ninguém
Mas quem nasce pra pataca, nunca pode ser vintém
Ver meus amigos “doutô”, basta pra me sentir bem
Ver meus amigos “doutô”, basta pra me sentir bem
Mas todos eles quando ouvem, um baiãozinho que eu fiz,
Ficam tudo satisfeito, batem palmas e pedem bis
E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz
E dizem: - João foi meu colega, como eu me sinto feliz
Mas o negócio não é bem eu, é Mané, Pedro e Romão,
Que também foram meus colegas , e continuam no sertão
Não puderam estudar, e nem sabem fazer baião -
O Morro não tem vez (Tom Jobim / Vinícius de Moraes)
Gravadora: Philips
Direção de Produção: Aloysio de Oliveira
Gravado ao vivo no Teatro Paramount, 1965.